Selo Lusofonia Além-Mar

Desde 2023, a Cátedra UNESCO de Leitura PUC-Rio concede, anualmente, o Selo Cátedra 10 – Lusofonia Além Mar a livros premiados pelo Observatório de Leitura do Município de Pombal, com o Selo Caminhos de Leitura, na Categoria Distinção.

Essa ação decorre do Acordo de Cooperação Cultural e Académico assinado entre o Município de Pombal e a PUC-Rio. O Observatório de Leitura segue os mesmos critérios de avaliação da  Cátedra UNESCO de Leitura PUC-Rio.

Selo Cátedra 10 – Lusofonia Além Mar é atribuído no máximo a 5 livros selecionados pelos especialistas portugueses do Observatório de Leitura.

OBRAS PREMIADAS

Concentra-te
Concentra-te!
Escritora: Catherine Grive | Ilustrador: Frédérique Bertrand | Tradutora: Silvia Sacadura

Editora: Livros Horizonte | Ano de publicação: 2022 | N.º de páginas: 37

Resenhista: Sara Reis da Silva

A cena inicial não podia ser mais caseira e mais real: uma mãe a passar roupa acompanhada de uma criança a ler um livro na cozinha. Entretanto, criança rima com imaginação. Como estar aqui se se pode estar em vários lugares, ser e viver vidas diferentes? Não demora muito e a menina distrai-se e logo está a voar e a habitar outros mundos. Levanta voo com um pássaro, transmuta-se numa vaca e viaja pelas “nuvens” da sua imaginação.

Nas páginas seguintes, os elementos da casa atingem outras dimensões e o mundo fica maior. Apesar do esforço desmedido para manter-se concentrada, a menina e, juntamente com ela, o leitor são conduzidos a um mundo onde a realidade e a fantasia se confundem.
Com muita sensibilidade e espírito, este livro-álbum centrado na criança e na sua voz, sempre na primeira pessoa, passeia pelos devaneios e sucessivas evasões imaginativas da menina, por vezes interrompidos pelo discurso firme, directivo e focado da mãe, enquanto revela, num tom envolvente e poético, a riqueza do universo infantil. A composição ilustrativa, em aguarela com detalhes a lápis, mistura diversos cenários, a começar pela casa. As muitas “nuvens”, dispersas pelas páginas, são um convite à imersão nesta viagem maravilhosa da invenção e da criação de mundos imaginários. A intermitência da dispersão e do regresso forçado – “concentra-te!” – persegue a menina, insistentemente, até conduzi-la à escolha final: o “aqui e agora”. Mas por quanto tempo?

Obs.: Este livro beneficiou do Programa de Apoio à Publicação do Instituto Francês de Portugal.

Palavras-chave: imaginação, concentração, infância, aqui e agora, distração.

Imagem-chave: páginas 24 e 25

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ISTO NÃO É

Escritor: Marco Taylor | Ilustrador: Marco Taylor

Editora: Marco Taylor | Ano de publicação: 2022 | N.º de páginas: 42

Resenhista: Iêda Alcântara

“Tudo o que vemos esconde outra coisa, sempre vemos o que está escondido pelo que vemos.”
   René Magritte

O autor declara “isto não é um balão”. De imediato, os olhos voltam-se para a ilustração na página ao lado, o que leva o leitor a pensar: mas poderia muito bem ser… E o jogo continua. Se não é um balão, então o que será? E, assim, a cada dupla de páginas deste pequeno e inspirado livro, segue a provocação: o leitor busca na imagem aquilo que o autor diz não ser. No final, a última ilustração produz uma bela e bem-humorada surpresa naquele que se dispôs a seguir o percurso proposto pelo autor.
Neste minilivro, tudo é simples; daquela simplicidade que encanta. Nada é por acaso, as escolhas são cheias de sentido. Texto e imagens na medida. A ilustração, com uma paleta de cores suaves, utiliza a técnica do carimbo num fundo em que emergem as irregularidades da tinta no papel. As bordas arredondadas e as versões de capas em tecido com cores diversas revelam o cuidado na produção de uma edição de autor.
Um livro intertextual, num diálogo com a obra de “Isto não é um cachimbo”, de René Magritte. Agora, de forma invertida, o autor introduz o conceito do que é a experiência da arte para o leitor infantil. Uma pequena obra de arte onde reinam a imaginação e o lúdico, em que as crianças de todas as idades são convidadas a brincar com os conceitos das coisas e a divertir-se com a dualidade entre o que se diz e o que se vê.

Palavras-chave: imaginação, ludicidade, dualidade, arte, intertextualidade.

Imagem-chave: páginas 3 e 4

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O DUELO
Escritora: Inês Viegas Oliveira | Ilustradora: Inês Viegas Oliveira 

Editora: Planeta Tangerina | Ano de publicação: 2022 | N.º de páginas: 60

Resenhista: Rui Marques Veloso

Sendo o duelo um confronto entre duas pessoas que conduzirá à derrota letal para uma delas, o leitor estará preparado para uma narrativa trágica, marcada pelo absurdo da procura da morte que vai castigar quem proferiu as ofensas. Se olharmos para a organização deste livro como objeto, constatamos que a autora, subtilmente, trabalha as guardas como um sobrescrito, cuja frente, para lá dos selos, inclui o nome do destinatário e o lugar, longínquo e frio, onde se encontra. Quem escreveu? Precisamente, um dos duelantes que, ciente do absurdo do confronto, preferiu afastar-se e, agora, convidar o seu opositor a reencontrarem-se numa calorosa visita. O trabalho de ilustração é rigoroso e sugestivo, dizendo tanto ou mais que as palavras do texto. A dinâmica da capa (ora aberta, ora fechada) sugere a subversão dos códigos do duelo, recusando a fuga cobarde, mas afirmando a coragem da defesa dos valores ligados à vida. Estamos, pois, perante uma carta dirigida a Rodin Rostov; o seu autor, a personagem ofendida que exigiu o duelo para limpar a honra, deu os passos necessários ao confronto, olhando sempre em frente, mas não parou. Andando, andando, percebe que os sons da vida, as cores do mundo, a beleza das estrelas, o calor humano é muito mais importante – daí o salto para um outro plano -, um convite para uma visita. Neste livro, há que sublinhar a profusão sábia de ilustrações, que passam da sobriedade dorida a uma explosão de cor e plenitude. Há, pois, um diálogo marcante entre um texto enxuto e uma representação plástica inteligente que obriga o leitor a saborear cada momento de fruição desta obra.

Obs.: Este livro foi criado no âmbito do projeto europeu “Every Story Matters” que tem como objetivo incentivar a criação de livros que promovam a inclusão.

Palavras-chave: conflito, diálogo, comunicação, paz, solidariedade.

Imagem-chave: páginas 1 e 2

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O PRIMEIRO DIA
Escritor: Henrique Coser Moreira | Ilustrador: Henrique Coser Moreira 

Editora: Planeta Tangerina | Ano de publicação: 2022 | N.º de páginas: 36

Resenhista: Bru Junça

 

Uma banda desenhada que retrata com bastante delicadeza um período tão sensível para todos nós: a pandemia. Leva-nos aos dias em que cada um, na sua casa, só tinha acesso ao mundo através das suas janelas. Mas, sobretudo, sublinha a proposta de uma mudança de olhar sobre aquilo que estava à nossa volta. No decorrer da narrativa, a liberdade e a natureza ganham dimensão. Um livro sem palavras que, pelas vivências quotidianas de uma criança, nos convida a demorar o olhar. Abre diferentes perspectivas, literal e metaforicamente. O estar dentro e o estar fora, representado através das quadrículas, pode ser visto de vários ângulos. A inércia do isolamento contrasta com o movimento da liberdade. O pouco espaço em casa amplia, ainda mais, a paisagem a perder de vista. É um sensível abraço aos recomeços, até mesmo àquele que chega depois da mais pesada das esperas. Uma obra original em toda a sua concepção artística, dotada de uma grande qualidade estética, literária e humana. Este livro sem palavras leva-nos numa viagem visual que enaltece a importância das pequenas coisas, a atenção a ser dada aos pormenores das coisas comuns, presentes no dia-a-dia. Abre um amplo espaço ao leitor para construir a narrativa com a ficção que lhe é dada a ler, mas também apelando às referências das suas próprias histórias de vida, convoca-o activamente para a construção de sentido.

 

Obs.: Vencedor do IV Prémio Internacional de Álbum Ilustrado de Serpa.

Palavras-chave: pandemia, liberdade, livro sem palavras, descoberta, recomeço.

Imagem-chave: página 13

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livro_terra_de_ninguem
TERRA DE NINGUÉM
Escritora: María José Floriano | Ilustrador: Federico Delicado | Tradutora: Elisabete Ramos

Editora: Kalandraka | Ano de publicação: 2022 | N.º de páginas: 44

Resenhista: Maria José Vitorino

A vida, os sonhos e as esperanças de uma criança de família circense, que vive num bairro de lata. O realojamento previsto da família e dos seus vizinhos desafia memórias, receios, esperanças e nostalgia da infância vivida até ali. A história ganha dimensão universal, pela abordagem da infância e pela correspondência ao quotidiano de um terço da população urbana mundial que vive em bairros degradados. Cada uma dessas pessoas alberga esperanças e sonhos, tal como no-lo fazem sentir as palavras, os traços e as cores das páginas. A obra, sendo ajustada a leitores mais jovens, é atractiva para todas as idades.
Realidade e fantasia envolvem-se com fluência e beleza, com adequação do conteúdo e das linguagens ao imaginário de crianças e adolescentes, no tempo real da infância e da convivência com outros. O circo e as artes circenses entrelaçam-se fortemente com as brincadeiras de rua.
Livro-álbum, de capa dura. Bela ilustração a partir de têmpera e texto de qualidade literária, com equilíbrio entre verbal e não verbal. Tradução cuidada.
Mobilizador de leituras de vários níveis, aborda, sem paternalismos nem moralismos, a atualidade. Num mundo de persistentes desigualdades, em que tantos modos de viver se transformam velozmente, a história, contada pela boca de uma criança, inspira-se na vida real de um dos bairros da Comunidade de Madrid, onde persistem, há gerações, focos de exclusão social activos, apesar do realojamento e de outras medidas.

Obs.: Col. Livros para sonhar. Tít. original “El Gallinero”, um dos bairros da Comunidade de Madrid (Espanha), parte do maior assentamento de bairros de lata da Europa.

Palavras-chave: infância, periferia urbana, circo, esperança, exclusão social.

Imagem-chave: páginas 4 e 5

N.B.

– Em cada um dos textos anteriores, foi respeitada a opção do autor, relativamente à utilização do Acordo Ortográfico.

– A apresentação dos livros no Site obedece a uma opção estética, não havendo ordenação por nenhum critério de avaliação.