Menção Honrosa António Torrado

Caras

Selo Distinção 2022

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CARAS

Escritor: João Pedro Mésseder | Ilustradora: Inês Oliveira

Editora: Xerefé Edições | Ano de publicação: 2022 | N.º de páginas: 36

Resenhista: Iêda Alcântara

Livro-álbum poético, objeto minuciosa e delicadamente composto no qual palavras e ilustrações se completam em harmonia e nos fazem refletir sobre a perda do medo e a insubmissão. O que são más caras senão máscaras de que pequenas e grandes autoridades, com frequência, fazem uso para impor o seu poder, preservar o próprio espaço e oprimir? Num texto poético, João Pedro Mésseder passeia por inúmeras más caras, sempre masculinas, de meter medo: sargento, capitão, major, general, ministro, presidente e monarca. A belíssima ilustração de Inês Oliveira, em aguarela, num inspirado conjunto cromático, de uma expressividade contundente, às vezes cómica, personifica, realça e amplia o sentido das palavras e revela um mundo de hostilidade que a autoridade quer impor. O discurso evolui num crescendo, até que, em meio à tempestade – o silêncio da dúvida entre a submissão e o enfrentamento também é uma tempestade –, a decisão: dar de caras com as más caras. E, numa viragem, num gesto de inconformismo e coragem, com um carão medonho, a personagem insubmissa decide enfrentar, quem sabe inspirada pelos tantos bichos – gatos, peixes, coelhos, grilos – que, alheios aos diversos elementos simbólicos de poder, transitam pelas páginas deste livro. Um livro que tanto gosto dá a ler, uma leitura sem pressas e que prende inevitavelmente o olhar a cada cara, a cada rosto.

Obs.: Selecionado por The Unpublished Picturebook Showcase 2. Finalista dos 4th CJ Picture Book Awards da Coreia do Sul.

Palavras-chave: más caras, poder, medo, insubmissão, autoridade.

Imagem-chave: páginas 16 e 17

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O primeiro dia
O primeiro dia
O PRIMEIRO DIA

Escritor: Henrique Coser Moreira | Ilustrador: Henrique Coser Moreira 

Editora: Planeta Tangerina | Ano de publicação: 2022 | N.º de páginas: 36

Resenhista: Bru Junça

Uma banda desenhada que retrata com bastante delicadeza um período tão sensível para todos nós: a pandemia. Leva-nos aos dias em que cada um, na sua casa, só tinha acesso ao mundo através das suas janelas. Mas, sobretudo, sublinha a proposta de uma mudança de olhar sobre aquilo que estava à nossa volta. No decorrer da narrativa, a liberdade e a natureza ganham dimensão. Um livro sem palavras que, pelas vivências quotidianas de uma criança, nos convida a demorar o olhar. Abre diferentes perspectivas, literal e metaforicamente. O estar dentro e o estar fora, representado através das quadrículas, pode ser visto de vários ângulos. A inércia do isolamento contrasta com o movimento da liberdade. O pouco espaço em casa amplia, ainda mais, a paisagem a perder de vista. É um sensível abraço aos recomeços, até mesmo àquele que chega depois da mais pesada das esperas. Uma obra original em toda a sua concepção artística, dotada de uma grande qualidade estética, literária e humana. Este livro sem palavras leva-nos numa viagem visual que enaltece a importância das pequenas coisas, a atenção a ser dada aos pormenores das coisas comuns, presentes no dia-a-dia. Abre um amplo espaço ao leitor para construir a narrativa com a ficção que lhe é dada a ler, mas também apelando às referências das suas próprias histórias de vida, convoca-o activamente para a construção de sentido.

Obs.: Vencedor do IV Prémio Internacional de Álbum Ilustrado de Serpa.

Palavras-chave: pandemia, liberdade, livro sem palavras, descoberta, recomeço.

Imagem-chave: página 13

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A minha árvore secreta
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A minha árvore secreta

Escritor: David Pintor | Ilustrador: David Pintor | Tradutora: Madalena Escourido

Editora: Editorial Caminho | Ano de publicação: 2022 | N.º de páginas: 36

Resenhista: Rita Pimenta

Uma menina conta a história de uma árvore plantada pelo avô. Tornou-se para ela o lugar de todas as brincadeiras, com o pai, com o Miguel e com animais amigos, mas também se revelou um abrigo: “Era o meu refúgio quando me sentia sozinha. Debaixo dessa árvore, estava sempre segura.” A árvore será cortada para dar lugar a mais cidade.
Segundo o autor e ilustrador, há um mundo fantástico debaixo das árvores para compartilhar experiências com as crianças. O título do livro imita o que ele e a filha chamavam a um salgueiro perto de sua casa, “a árvore secreta”.
É um conto ilustrado que nos reenvia para os clássicos da literatura infanto-juvenil, com vocação de interesse universal. Nele se homenageiam os pais que acarinham os seus filhos, mas, acima de tudo, “é uma carta de amor à natureza”, nas palavras do autor.
Amizade, amor, fantasia, nostalgia, a passagem do tempo, solidão e imaginação estão presentes numa obra que é também um convite à recuperação da nossa relação com o meio ambiente.
A tradução é competente e as ilustrações, de cores outonais e com pormenores que apetece explorar, conferem uma atmosfera bucólica e serena que se adequa plenamente à narrativa. É o primeiro livro em que o autor assina simultaneamente ilustração e texto.
(Excerto/adaptação do texto divulgado no jornal Público “Uma carta de amor à natureza”, a 4 de Junho de 2022.)

Palavras-chave: natureza, família, sustentabilidade, brincar, amor.

Imagem-chave: páginas 16 e 17

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Terra de ninguém
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TERRA DE NINGUÉM

Escritora: María José Floriano | Ilustrador: Federico Delicado | Tradutora: Elisabete Ramos

Editora: Kalandraka | Ano de publicação: 2022 | N.º de páginas: 44

Resenhista: Maria José Vitorino

A vida, os sonhos e as esperanças de uma criança de família circense, que vive num bairro de lata. O realojamento previsto da família e dos seus vizinhos desafia memórias, receios, esperanças e nostalgia da infância vivida até ali. A história ganha dimensão universal, pela abordagem da infância e pela correspondência ao quotidiano de um terço da população urbana mundial que vive em bairros degradados. Cada uma dessas pessoas alberga esperanças e sonhos, tal como no-lo fazem sentir as palavras, os traços e as cores das páginas. A obra, sendo ajustada a leitores mais jovens, é atractiva para todas as idades.
Realidade e fantasia envolvem-se com fluência e beleza, com adequação do conteúdo e das linguagens ao imaginário de crianças e adolescentes, no tempo real da infância e da convivência com outros. O circo e as artes circenses entrelaçam-se fortemente com as brincadeiras de rua.
Livro-álbum, de capa dura. Bela ilustração a partir de têmpera e texto de qualidade literária, com equilíbrio entre verbal e não verbal. Tradução cuidada.
Mobilizador de leituras de vários níveis, aborda, sem paternalismos nem moralismos, a atualidade. Num mundo de persistentes desigualdades, em que tantos modos de viver se transformam velozmente, a história, contada pela boca de uma criança, inspira-se na vida real de um dos bairros da Comunidade de Madrid, onde persistem, há gerações, focos de exclusão social activos, apesar do realojamento e de outras medidas.

Obs.: Col. Livros para sonhar. Tít. original “El Gallinero”, um dos bairros da Comunidade de Madrid (Espanha), parte do maior assentamento de bairros de lata da Europa.

Palavras-chave: infância, periferia urbana, circo, esperança, exclusão social.

Imagem-chave: páginas 4 e 5

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MIAU!

Escritora: Joana Estrela | Ilustradora: Joana Estrela  

Editora: Planeta Tangerina | Ano de publicação: 2022 | N.º de páginas: 58

Resenhista: Sara Reis da Silva

Da autoria de Joana Estrela, esta narrativa visual (wordless picturebook), com marcas da Banda Desenhada, integra a colecção “mini-micro” da Planeta Tangerina e o desafio que a sua leitura propõe principia logo nas guardas iniciais. É neste espaço peritextual que o leitor é convidado a envolver-se imaginativamente no relato – que aqui integra alguns segmentos verbais em discurso directo –, a partir da possibilidade de atribuição de nome próprio às duas figuras centrais e antagónicas da narrativa, um gato branco e um gato preto, personagens, aliás, anunciadas pelo título. Económico do ponto de vista cromático, o volume evidencia, em contrapartida, uma profusão ilustrativa, guardando, assim, um discurso instigante que se vai desfiando a partir do quotidiano simultaneamente paralelo e divergente (como melhor percebe o leitor do que a própria personagem humana feminina do texto) dos dois felinos, junto da sua dona. No seu dia-a-dia, dois gatos encontram-se e desencontram-se, lutam e brincam, espreguiçam-se e escapam-se pelos telhados, e dominam o pensamento da menina que com eles habita, alguém que até se dedica a ler O Gato das Botas. Perpassada por tópicos como a diferença, a imaginação, o companheirismo ou a dedicação, por exemplo, esta obra, cuja criação foi apoiada pelo projecto «CLAN – Amizades entre Crianças e Animais: desafiando as fronteiras entre o humano e o não humano» (FCT-Fundação para a Ciência e Tecnologia), será certamente bem recebida por leitores de todas as idades.

Palavras-chave: animais, humanos, diferença, companheirismo, dedicação.

Imagem-chave: páginas 51 e 52

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Assim ou assado
Assim ou assado
ASSIM ou ASSADO?

Escritora: María Pascual de la Torre | Ilustradora: María Pascual de la Torre | Tradutora: Elisabete Ramos

Editora: Kalandraka | Ano de publicação: 2022 | N.º de páginas: 22

Resenhista: Paula Cusati

Ideal para a leitura partilhada, este livro-álbum cartonado retrata, com humor, um dia na vida de uma pequena criança, desde o acordar, ao comer, vestir, fazer chichi, passear, arrumar os brinquedos, até ao adormecer. Desenganem-se os que pensam que é um “livro para” ensinar a rotina do bebé. O pequeno protagonista subverte os habituais modos de realizar as diferentes tarefas, propondo divertidas variações, a começar pela capa, num permanente jogo de experimentação e questionamento. A cada página, o leitor assiste às inúmeras tentativas e às imensas possibilidades do fazer, e é convidado a participar num diálogo com o protagonista, com a obra e com a sua própria vida: “Como gostas de dormir, tu aí?”, “Como gostas de comer, tu aí?”

Um livro com diferentes níveis de leitura, com detalhes preciosos nas ilustrações minuciosas a lápis de cor, leva os jovens leitores e os seus pais, com um sorriso, à identificação com o protagonista e a sua família. O paralelismo entre a dupla página inicial e a final, nas posições assumidas na hora de dormir, bem como na biblioteca pessoal espalhada pelo chão, e que reconhecemos, fazem nascer a questão: quem terá adormecido primeiro?

Obs.: Pertence à coleção “Livros para sonhar”

Palavras-chave: quotidiano, infância, jogo, questionamento, experimentação.

Imagem-chave: página 4

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O duelo
O duelo
O DUELO

Escritora: Inês Viegas Oliveira | Ilustradora: Inês Viegas Oliveira 

Editora: Planeta Tangerina | Ano de publicação: 2022 | N.º de páginas: 60

Resenhista: Rui Marques Veloso

Sendo o duelo um confronto entre duas pessoas que conduzirá à derrota letal para uma delas, o leitor estará preparado para uma narrativa trágica, marcada pelo absurdo da procura da morte que vai castigar quem proferiu as ofensas. Se olharmos para a organização deste livro como objeto, constatamos que a autora, subtilmente, trabalha as guardas como um sobrescrito, cuja frente, para lá dos selos, inclui o nome do destinatário e o lugar, longínquo e frio, onde se encontra. Quem escreveu? Precisamente, um dos duelantes que, ciente do absurdo do confronto, preferiu afastar-se e, agora, convidar o seu opositor a reencontrarem-se numa calorosa visita. O trabalho de ilustração é rigoroso e sugestivo, dizendo tanto ou mais que as palavras do texto. A dinâmica da capa (ora aberta, ora fechada) sugere a subversão dos códigos do duelo, recusando a fuga cobarde, mas afirmando a coragem da defesa dos valores ligados à vida. Estamos, pois, perante uma carta dirigida a Rodin Rostov; o seu autor, a personagem ofendida que exigiu o duelo para limpar a honra, deu os passos necessários ao confronto, olhando sempre em frente, mas não parou. Andando, andando, percebe que os sons da vida, as cores do mundo, a beleza das estrelas, o calor humano é muito mais importante – daí o salto para um outro plano -, um convite para uma visita. Neste livro, há que sublinhar a profusão sábia de ilustrações, que passam da sobriedade dorida a uma explosão de cor e plenitude. Há, pois, um diálogo marcante entre um texto enxuto e uma representação plástica inteligente que obriga o leitor a saborear cada momento de fruição desta obra.

Obs.: Este livro foi criado no âmbito do projeto europeu “Every Story Matters” que tem como objetivo incentivar a criação de livros que promovam a inclusão.

Palavras-chave: conflito, diálogo, comunicação, paz, solidariedade.

Imagem-chave: páginas 1 e 2

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Isto não é
Isto não é
ISTO NÃO É

Escritor: Marco Taylor | Ilustrador: Marco Taylor

Editora: Marco Taylor | Ano de publicação: 2022 | N.º de páginas: 42

Resenhista: Iêda Alcântara

“Tudo o que vemos esconde outra coisa, sempre vemos o que está escondido pelo que vemos.”
   René Magritte

O autor declara “isto não é um balão”. De imediato, os olhos voltam-se para a ilustração na página ao lado, o que leva o leitor a pensar: mas poderia muito bem ser… E o jogo continua. Se não é um balão, então o que será? E, assim, a cada dupla de páginas deste pequeno e inspirado livro, segue a provocação: o leitor busca na imagem aquilo que o autor diz não ser. No final, a última ilustração produz uma bela e bem-humorada surpresa naquele que se dispôs a seguir o percurso proposto pelo autor.
Neste minilivro, tudo é simples; daquela simplicidade que encanta. Nada é por acaso, as escolhas são cheias de sentido. Texto e imagens na medida. A ilustração, com uma paleta de cores suaves, utiliza a técnica do carimbo num fundo em que emergem as irregularidades da tinta no papel. As bordas arredondadas e as versões de capas em tecido com cores diversas revelam o cuidado na produção de uma edição de autor.
Um livro intertextual, num diálogo com a obra de “Isto não é um cachimbo”, de René Magritte. Agora, de forma invertida, o autor introduz o conceito do que é a experiência da arte para o leitor infantil. Uma pequena obra de arte onde reinam a imaginação e o lúdico, em que as crianças de todas as idades são convidadas a brincar com os conceitos das coisas e a divertir-se com a dualidade entre o que se diz e o que se vê.

Palavras-chave: imaginação, ludicidade, dualidade, arte, intertextualidade.

Imagem-chave: páginas 3 e 4

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Hachiko
Hachiko
HACHIKO, O CÃO QUE ESPERAVA

Escritor: Lluís Prats | Ilustradora: Zuzanna Celej | Tradutor: Artur Guerra

Editora: Fábula | Ano de publicação: 2022 | N.º de páginas: 158

Resenhista: Bru Junça

Esta obra é baseada numa história verídica que nos coloca diante de uma profunda história de amor e lealdade entre um ser humano e um animal, onde a realidade supera claramente a ficção. Conta a vida de um cão, o Hachiko, e daquele que ele escolhe para seu dono, o Professor Ueno. Uma união que nos faz pensar que, talvez, o contrário da morte não seja a vida, mas, sim, o amor. Passa-se no Japão e todo este universo é representado graficamente de uma forma muito equilibrada e agradável, convidando-nos a entrar nessa ambiência. Bonito design gráfico, bastante cuidado e harmonioso com o texto. Os tipos de letra escolhidos, as ilustrações em concordância com a mancha textual guiam-nos, a pouco a pouco, para um lugar culturalmente tão diferente do Europeu. As ilustrações dão-nos referências geográficas sem nunca tirar a respiração ao texto. É um livro direccionado para um público juvenil e/ou jovem adulto que seduz desde o início e, ao mesmo tempo, inquieta e faz reflectir sobre a magnitude das relações sem nunca fazer desprender o leitor. Há uma qualidade literária do texto bastante coerente com a delicadeza do tema, em concordância com a referência ao contexto cultural da história real que serve de inspiração à ficção. Promove a empatia entre os seres humanos, e entre estes e os animais, bem como a valorização das diferenças culturais na abordagem de temas universais.

Obs.: Prémio Josep M. Folch i Torres. A tradução da obra teve o apoio de: Institut Ramon Llull.

Palavras-chave: lealdade, luto, saudade, Japão, animais.

Imagem-chave: página 85

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Concentra-te
Concentra-te
Concentra-te!

Escritora: Catherine Grive | Ilustrador: Frédérique Bertrand | Tradutora: Silvia Sacadura

Editora: Livros Horizonte | Ano de publicação: 2022 | N.º de páginas: 37

Resenhista: Sara Reis da Silva

A cena inicial não podia ser mais caseira e mais real: uma mãe a passar roupa acompanhada de uma criança a ler um livro na cozinha. Entretanto, criança rima com imaginação. Como estar aqui se se pode estar em vários lugares, ser e viver vidas diferentes? Não demora muito e a menina distrai-se e logo está a voar e a habitar outros mundos. Levanta voo com um pássaro, transmuta-se numa vaca e viaja pelas “nuvens” da sua imaginação.

Nas páginas seguintes, os elementos da casa atingem outras dimensões e o mundo fica maior. Apesar do esforço desmedido para manter-se concentrada, a menina e, juntamente com ela, o leitor são conduzidos a um mundo onde a realidade e a fantasia se confundem.
Com muita sensibilidade e espírito, este livro-álbum centrado na criança e na sua voz, sempre na primeira pessoa, passeia pelos devaneios e sucessivas evasões imaginativas da menina, por vezes interrompidos pelo discurso firme, directivo e focado da mãe, enquanto revela, num tom envolvente e poético, a riqueza do universo infantil. A composição ilustrativa, em aguarela com detalhes a lápis, mistura diversos cenários, a começar pela casa. As muitas “nuvens”, dispersas pelas páginas, são um convite à imersão nesta viagem maravilhosa da invenção e da criação de mundos imaginários. A intermitência da dispersão e do regresso forçado – “concentra-te!” – persegue a menina, insistentemente, até conduzi-la à escolha final: o “aqui e agora”. Mas por quanto tempo?

Obs.: Este livro beneficiou do Programa de Apoio à Publicação do Instituto Francês de Portugal.

Palavras-chave: imaginação, concentração, infância, aqui e agora, distração.

Imagem-chave: páginas 24 e 25

Selo Seleção 2022

Jerónimo e Joséfa
Jerónimo e Joséfa
JERÓNIMO e JOSEFA

Escritor: José Saramago | Ilustrador: João Fazenda 

Editora: Tcharan | Ano de publicação: 2022 | N.º de páginas: 36

Resenhista: Tâmara Bezerra

Muitas crianças encontram na relação com os avós significativa referência de proteção e afeto. A casa deles, a comida servida, os ensinamentos sobre coisas simples, as histórias contadas, todas experiências de caráter intergeracional, responsáveis por boa parte da saúde emocional dos que tiveram a oportunidade desse convívio. O livro apresenta avós, “analfabetos um e outro”, e a narrativa discorre sobre esse casal de vida campesina, e o seu convívio com o neto José, numa obra coberta da cotidianidade dessa família.  A frase “a arte existe para que a realidade não nos destrua”, do filósofo alemão Friedrich Nietzsche, pode ser ampliada a partir da experiência com esse livro, delicadamente ilustrado por meio de desenhos com cores que transportam o leitor para o dia e a noite na pequena aldeia, e que, discretamente, revela a possível inspiração para toda a capacidade literária do autor. Pormenores da dura realidade desses avós que não sabiam ler são revelados de forma poética, através “do fabuloso poder reconstrutor da memória” do menino que se tornou um grande escritor. O texto é um fragmento do seu discurso ao receber o Prêmio Nobel. Uma declaração de amor e gratidão àqueles que provavelmente inspiraram sua escrita. O contato com essa obra nos oferece a possibilidade de questionar o filósofo, descobrir que é possível construir arte a partir da existência numa dura realidade, “transformar pessoas comuns em personagens literárias”. 

Obs.: Livro apoiado pela Cátedra José Saramago da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro. Tem a chancela da Fundação José Saramago. 

Palavras-chave: avós, infância, convívio familiar, literatura, memória.

Imagem-chave: páginas 8 e 9

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A menina que inventava animais
A menina que inventava animais
A MENINA QUE INVENTAVA ANIMAIS

Escritor: José Fanha | Ilustradora: Fátima Afonso

Editora: Paulinas | Ano de publicação: 2022 | N.º de páginas: 50

Resenhista: Sara Reis da Silva

Imaginação, criatividade, delicadeza e sensibilidade (liberdade, também) compõem uma síntese dos traços que distinguem este conto ilustrado A Menina que Inventava Animais. Muito belo e poético – as ilustrações de Fátima Afonso muito para isso contribuem –, o volume guarda uma narrativa que é, na verdade, um elogio às palavras e à capacidade inventiva das crianças. Para que servem as palavras? Para tudo e para nada, para brincar e para pensar. Assim nos conta José Fanha, na voz e na pessoa de Tété, uma menina que ama as palavras, as plantas e os animais. E, por isso, resolve fazer uns “casamentos muito esquisitos entre nomes de animais, inventando novas palavras”, como Giragaio e Papagafa, nascidas da união de Girafa e Papagaio, e desenha-os delicadamente. O carácter neológico e híbrido destes seres e das próprias palavras que os nomeiam singulariza a acção da protagonista infantil que, aliás, se demarca de todas as personagens adultas, algumas muito “poderosas”. Um especial sentido lúdico perpassa todo o texto, prendendo a atenção do leitor, que, com Tété, parece ser convidado a, também ele, “inventar coisas novas com as palavras”, a apanhar, aqui e ali, belas palavras e a reconhecer que as mais bonitas de todas são as que as pessoas trazem “nos olhos, no peito e no coração”

Obs.: O livro faz parte da coleção Asas de Papel. 

Palavras-chave: infância, imaginação, criatividade, liberdade, arte.

Imagem-chave: páginas 12 e 13

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Vai subir ou vai descer
Vai subir ou vai descer
VAI SUBIR OU VAI DESCER?

Escritora: Isabel Peixeiro | Ilustradora: Soraia Oliveira

Editora: Tcharan | Ano de publicação: 2022 | N.º de páginas: 28

Resenhista: Rita Pimenta

Como funciona um elevador?, quer saber a criança. As imaginativas respostas vão dos pós de perlimpimpim ao ar de um balão. Uma frase vulgar dita por alguém num elevador ficou a ecoar na mente de Isabel Peixeiro, “vai subir ou vai descer?”, a que se juntou a prática de ter de responder a um dos filhos sobre o funcionamento de tudo, “desde o elevador ao multibanco”. 

“Há sempre quem pergunte ‘Vai subir ou vai descer?’/ Mas como é que funciona/ é o que quero saber. // Assim que entra, a Olívia diz-me logo confiante:/ ‘O que puxa e empurra é a mão de um gigante’.” Outras respostas hão-de ser dadas pelos vizinhos, em rimas bem-humoradas. 
A ilustradora conseguiu captar o ritmo do texto, criando ilustrações com cores fortes e vários elementos visuais que acompanham e reforçam a ideia de subir e descer. Diz Soraia Oliveira: “As formas geométricas surgiram porque o tema principal do livro é uma máquina. Estas permitiram enfatizar a mecânica do elevador — que acaba por ser uma personagem principal.”
Usou técnica mista, desenho digital e desenho manual, onde introduz diferentes materiais, como grafites, lápis de cor, acrílicos, aguarelas e marcadores.
Um livro imaginativo e divertido, em que ninguém pára quieto.
(Excerto/adaptação do texto divulgado no Público “Um livro que nos leva para cima e para baixo”, a 14 de Janeiro de 2023.)  

Obs.: Prémio Literário Matilde Rosa Araújo, atribuído pela Câmara Municipal da Trofa com o apoio de Camões, Instituto da Cooperação e da Língua, IP.

Palavras-chave: curiosidade, família, quotidiano, imaginação, técnica.

Imagem-chave: páginas 8 e 9

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Livro do Outono
Livro do Outono
LIVRO DO OUTONO

Escritora: Isabel Peixeiro | Ilustrador: Vitor Hugo Matos

Editora: UPA Editora | Ano de publicação: 2022 | N.º de páginas: 24

Resenhista: Paula Cusati

A chuva que bate à janela numa manhã de outono é convite suficientemente sedutor para saltar da cama e ir brincar lá para fora, seguindo o rasto do caracol, saboreando o tempo lento, pisando as folhas caídas ou chapinhando nas poças. Neste livro cartonado, oblongo, de cantos redondos, o breve poema de Isabel Peixeiro (editora que se estreia no seu próprio catálogo) é acompanhado de forma graciosa pelas ilustrações de Vitor Hugo Matos (técnica mista: colagem e digital), num interessante contraste cromático entre as cores quentes das folhas outoniças ou da roupa da criança protagonista e os tons frios do céu chuvoso e nublado. 

Palavras-chave: infância, jogo, natureza, outono, liberdade.

Imagem-chave: páginas 14 e 15

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O leão por cima da porta
o LEÃO por cima da PORTA

Escritora: Onjali Q. Raúf | Ilustradora: Pippa Curnick | Tradutora: Maria Leitão

Editora: Booksmile | Ano de publicação: 2022 | N.º de páginas: 320

Resenhista: António Jorge Serafim

É uma narrativa escrita de uma forma fluente e informativa. Eternamente necessária à actualidade que nos circunda. A história da emigração e da sua integração nas comunidades é um tema pertinente a abordar para qualquer faixa etária. Para compreender melhor o fenómeno da mobilidade do ser humano, nada melhor que vasculhar nos recantos da história escondida. O papel dos imigrantes não só na formação de um país, como na luta por vezes desesperante pelos ideais de liberdade, fraternidade e igualdade, tão amplamente proclamados na revolução francesa.

Esta é a história de duas famílias de distintas origens. A família de Leo é de Singapura, a de Sangeeta é da Índia. Dois amigos que vivem e estudam em Inglaterra e que são vítimas de discriminação e xenofobia por parte dos colegas de escola e de alguns vizinhos. Como lidar com esta situação? A água na fervura é constantemente colocada pelo pai na tentativa diária de ensinar que violência acentua mais violência. Mais do que agressividade é pela via do diálogo e do conhecimento que se apagam preconceitos e contradições.
E é nesta crescente tensão de relações que, numa visita de estudo da escola, Leo, um dos personagens da história, descobre numa catedral uma placa com uma lista de nomes de soldados que combateram na Segunda Guerra Mundial contra o regime nazi. Nesse mural, depara com um nome igual ao seu. Despertada a curiosidade, inicia-se a procura das histórias que fazem a História. Acabam por descobrir muitos heróis desconhecidos oriundos de diversas culturas e etnias. É uma viagem de alguém à procura de si mesmo e do seu papel numa sociedade aparentemente estranha à sua própria identidade, que visa demonstrar que, afinal, existem ideais imprescindíveis a toda a gente, independentemente da cor da pele, da religião e do ideal político. Livro interessante, de fácil leitura.
Uma nota importante: o livro complementa-se, no final, com uma série de fotografias de rostos que compuseram as forças aliadas na luta contra o nazismo. Esta é uma informação relevante para desconstruir territórios e nacionalismos individualistas. 

Palavras-chave: tolerância, discriminação, integração, história, conhecimento.

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A avó lá de cima e a avó lá de baixo
A avó lá de cima e a avó lá de baixo
A Avó Lá de Cima e A Avó Lá de Baixo

Escritor: Tomie dePaola | Ilustrador: Tomie dePaola | Tradutora: Carla Maia de Almeida

Editora: Kalandraka | Ano de publicação: 2022 | N.º de páginas: 36

Resenhista: Rui Marques Veloso

Nova edição de um texto com meio século de vida que preserva todo o seu potencial literário (a tradução portuguesa é de grande qualidade) capaz de tocar o jovem leitor e os adultos. O são convívio de gerações permite que o tecido social se torne mais sólido e resista às agruras da inexorável passagem do tempo. Com um texto enxuto e ilustrações calorosas, descobrimos um ambiente de paz e ternura nos laços que se estabelecem entre o pequeno Tommy e a avó e bisavó; a perenidade da vida é uma ilusão e o protagonista tem de aprender a suportar o vazio da perda das avós e a preservar as memórias. Fica a saudade. Trata-se de uma obra bem construída e capaz de oferecer ao jovem leitor espaço para paralelismos pacificadores.

Palavras-chave: família, afectos, memória, morte, tempo.

Imagem-chave: página 13

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O burro sabe
O burro sabe
O BURRO SABE

Escritor: Tomie dePaola | Ilustrador: Tomie dePaola | Tradutora: Carla Maia de Almeida

Editora: Cor de Burro Quando Foge | Ano de publicação: 2022 | N.º de páginas: 44

Resenhista: Bru Junça

Um dia, a mãe de Rafael dá-lhe uma importante tarefa. Tem de ir ao moinho. Sem conhecer o caminho, o menino confia no burro, pois o burro é que sabe. Um livro-álbum graficamente bem concebido. O tipo de papel confere textura à narrativa e, se nos debruçarmos sobre o projecto gráfico, vamos encontrar, desde as guardas até a alguns subtis pormenores, apontamentos com duplo sentido que dão frescura e sentido de humor ao livro. É um livro que apetece abrir, folhear. A ilustração apela a um jogo de dimensões e movimento muito interessantes. Dá ao leitor uma sensação de expansão, gestos que se alongam para lá do livro. Coloca o leitor fora das margens, do livro. A paleta de cores e o próprio traço conduzem-nos até às vivências do mundo rural e, apesar de ter uma mancha de cor bastante preenchida, é um livro limpo de ruído. Há um bom equilíbrio entre a mancha textual e a ilustração. É uma história sem flutuações, uma narrativa linear, mas que ganha corpo pela ilustração. 

Palavras-chave: ruralidade, moinho, burro, aldeia, pão.

Imagem-chave: páginas 12 e 13

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Filho de Nana
Filho de Nana
Filho de Nana

Escritor: Meshack Asare | Ilustrador: Meshack Asare | Tradutor: Marinho Pina

Editora: FALAS AFRIKANAS | Ano de publicação: 2022 | N.º de páginas: 52

Resenhista: Maria José Vitorino

No começo, Nana fez surgir o mundo e a luz, e, com a sua criação, se maravilhou. Procurou, então, uma criatura que nele viva e dele cuide. Do nada, chegam quatro coisas candidatas a esse papel. Nana pô-las-á à prova, nos quatro cantos do mundo, e encontra a solução, que persiste até hoje.

A obra é uma versão de um mito de origem ouvido na África Ocidental, apresentada em língua inglesa por um autor ganês, com grande equilíbrio entre texto verbal e ilustrações, e tradução cuidada para português de Portugal.

O texto, de qualidade literária assinalável e adequação a todas as idades, para leitura autónoma ou em voz alta, maravilha pela força do mito ancestral africano e pelas palavras escolhidas para o apresentar. O tipo de letra é claro e nítido. A qualidade e as cores das ilustrações, evocando África, encantam e despertam quem lê, promovendo novas leituras. 

Palavras-chave: criação do mundo, criação da humanidade, África, corpo, literatura oral africana.

Imagem-chave: página 9

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A luz é grande
A luz é grande
A LUZ é GRANDE

Escritora: Ana Pessoa | Ilustradora: Joana Estrela

Editora: Planeta Tangerina | Ano de publicação: 2022 | N.º de páginas: 38

Resenhista: Dora Batalim

Precioso pequeno livro, adequado ao público infantil (não necessariamente a bebés), nas palavras, nas imagens e no formato. Aqui se registam as “frases que alguém disse pela primeira vez”, sequenciadas de forma livre (mas intencional) e aberta. Afirma-se o mundo na sua inteireza primordial, o milagre da linguagem e da nomeação: “a porta abriu”; “não está ninguém”, “é uma flor amarela” e nós encontramo-lo de novo, também a partir das ilustrações de página cheia, de cores vivas limitadas e os traços naïfs. A técnica evoca as pinturas a pincel da escola, entre as têmperas e as aguarelas, mas as relações com o texto verbal são subtis e sensíveis. Belíssima qualidade gráfica e linguística, portanto, facilitando a empatia com as linguagens infantis, verbais e não verbais. Aberto a leituras múltiplas, um poema a todos os níveis, luminoso. 

Obs.: Este livro pertence à Coleção mini-micro da editora Planeta Tangerina, onde tanto a escritora como a ilustradora assinam outras obras. 

Palavras-chave: infância, quotidiano, pré-leitura, jogo de palavras, descoberta.

Imagem-chave: páginas 11 e 12

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Entra na caixa Lobo Mau
Entra na caixa Lobo Mau
Entra na caixa, Lobo Mau!

Escritora: Clara Cunha | Ilustradora: Natalina Cóias

Editora: Livros Horizonte | Ano de publicação: 2022 | N.º de páginas: 28

Resenhista: Tâmara Bezerra

Que utilidade pode haver em uma caixa de cartão vazia? Esse foi o dilema do Lobo Mau durante um passeio pela floresta ao encontrar uma. Como era de se esperar, sua primeira ideia foi usá-la para apanhar algum animal que pudesse se tornar refeição. Talvez inspirado na conhecida história, o Lobo Mau resolveu passar pela casa dos três porquinhos. A partir de então, a utilidade da caixa passa a ser ressignificada, e a ludicidade toma conta da narrativa, por meio de um texto convidativo, e de ilustrações em página dupla, que dialogam com esse aspecto lúdico. O apreciador da obra conta com imagens feitas em pintura e colagem sobre papel, capazes de o transportar para um universo todo feito de papel cartão. Nos matizes da narrativa é possível identificar questões interessantes para o trabalho do mediador de leitura, como o que pode ser considerado útil, por exemplo, a partir da trajetória de busca do Lobo por uma utilidade para a caixa. O livro livro-álbum confronta o leitor com esta questão, embora não a aborde diretamente. A escolha de destacar o nome do Lobo Mau com letras maiores, e na cor vermelha, contribui para a perspectiva de enriquecimento da leitura em alta voz, sendo capaz de provocar a ideia de que, ao oralizar o texto, o nome do personagem merece ser pronunciado de forma enfática. Esta obra, que confronta o útil com o lúdico, começa com um dilema e seduz o leitor a entrar na caixa e, também, na história.

Obs.: A contracapa faz referência à campanha de doação de 1€ com a compra do livro, destinado ao Grupo Lobo, ONG de Ambiente, em prol da conservação do lobo e do seu ecossistema em Portugal.

Palavras-chave: experiência lúdica, utilidade, invenção, ressignificar, criatividade.

Imagem-chave: páginas 6 e 7

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Sê uma árvore
Sê uma árvore
SÊ UMA ÁRVORE!

Escritora: Maria Gianferrari | Ilustradora: Felicita Sala | Tradutora: Susana Cardoso Ferreira

Editora: Fábula | Ano de publicação: 2022 | N.º de páginas: 52

Resenhista: Rita Pimenta

Um convite à contemplação da natureza e de nós próprios. A comparação entre os ramos e os nossos braços; as raízes, “deixa as tuas raízes emaranharem-se no solo para te segurarem”; o tronco, “que te dá forma”; a copa, “que conduz o teu alimento”; a casca, a nossa pele, “protege o teu interior, apesar de morta no exterior”; as várias camadas de borne (parte interna da casca das árvores), “que transporta os nutrientes, ajudando-te a ficar cada vez maior e mais alto”; o cerne, “forte como osso, para te sustentar”. Por fim, a medula, “a guardiã dos nutrientes desde o princípio dos teus dias”.

Depois de todas estas observações e comparações, diz-nos a autora: “Olha para ti: ramos e folhas em cima, raízes em baixo e o tronco no meio. És uma árvore.” Para a seguir lembrar que não estamos sós. “És uma árvore entre muitas.”
Maria Gianferrari queria escrever um livro sobre árvores que juntasse ciência e poesia. Conseguiu. E a tradução fez-lhe jus.
A acompanhá-la, a ilustradora Felicita Sala, que, numa conversa divulgada no YouTube pela Toadstool Bookshop, conta que demorou meses a terminar este livro. “Não queria que fosse todo verde e castanho”, já que é logo o que se imagina quando se pensa em árvores. Investigou, procurou a maior variedade possível de árvores e fez por espelhar o que o texto sugeria: “O vento, as sementes, as raízes, a terra.” Recorreu também às suas memórias australianas. Resultou.
Enquanto homenagem a esses seres que se erguem da terra, estendem os braços para o sol e enlaçam as raízes no subsolo, pode ajudar as crianças e jovens à contemplação e respeito pela natureza: “Sê uma árvore, porque, juntos, somos uma floresta.” Sejamos então.

(Excerto/adaptação do texto divulgado no jornal Público “Nós como árvores”, a 26 de Março de 2022.)  

Palavras-chave: natureza, árvores, biodiversidade, contemplação, ecologia.

Imagem-chave: páginas 24 e 25

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O Gnu e o texugo - Está a chover
O Gnu e o texugo
O GNU E O TEXUGO - ESTÁ A CHOVER

Escritora: Ana Pessoa | Ilustradora: Madalena Matoso 

Editora: Planeta Tangerina | Ano de publicação: 2022 | N.º de páginas: 55

Resenhista: Iêda Alcântara

O que fazer num dia de chuva? Nada melhor do que ficar em casa, tomar um chá quentinho e jogar às cartas. Mas como se jogam às cartas? Isso parece não importar nem ao gnu nem ao texugo. Prepara-se o chá, distribuem-se as cartas, cinco para cada um. Ambos mostram as suas cartas, neste jogo não há espaço para segredos. O texugo lança a primeira carta e começa a contar uma história, em seguida, o gnu lança a segunda e avança. Que história mais absurda! Os dois divertem-se. Todas as cartas foram lançadas. E agora? Vamos jogar outra vez? Sim, mas que tal jogar ao contrário, da última para a primeira carta? Outra história mais disparatada surge. Muitas gargalhadas.

Este é o segundo livro da dupla gnu e texugo, uma história de amizade, de companheirismo, da predisposição para o imprevisto, para criar um jogo em que as regras são inventadas enquanto se brinca. Brincadeiras de imaginar, de criar histórias de improviso.
Os diálogos são simples e as histórias – a que se lê na ida e a que se lê na volta com o livro de cabeça para baixo – são divertidas pelo absurdo que emerge no jogo do imprevisto. As onomatopeias brincam com as ilustrações pintadas com tintas e canetas e desenhos recortados e colados.
Mas a brincadeira não termina aí. No final, um desafio e um convite ao leitor para imaginar outras narrativas com novas cartas, porque, afinal, o que importa é o prazer de criar e contar histórias. 

Obs.: Este livro pertence à coleção mini-micro.

Palavras-chave: jogo, histórias, baralho, imaginação, improviso.

Imagem-chave: página 17

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Que planeta é este?
Que planeta é este?
QUE PLANETA É ESTE?

Escritora: Eduarda Lima | Ilustradora: Eduarda Lima

Editora: Orfeu Negro | Ano de publicação: 2022 | N.º de páginas: 36

Resenhista: Bru Junça

Numa noite, foi tudo abaixo. Um apagão deixou a cidade completamente às escuras. Todos tiveram que interromper o que estavam a fazer e é aqui que embarcamos, com a jovem protagonista desta história, numa sedutora viagem por alguns dos lugares naturais mais bonitos do mundo. Dentro de uma tenda, improvisada, à luz da leitura, (re)descobrimos um mundo, por vezes, esquecido. Por nós, enquanto humanidade. Um livro-álbum quase informativo que leva o leitor a espantar-se com a beleza deste planeta chamado Terra.  A ilustração de cores fortes e contrastantes, num traço muito curvilíneo, oferece uma sensação de movimento. Quase que conseguimos materializar-nos naqueles lugares, página após página. Encontramos uma clara chamada de atenção para o ruído e para o ritmo frenético das grandes cidades. E como este actual modo de vida apaga o nosso olhar sobre a natureza que nos rodeia. Um livro que nos interroga sobre o futuro, pela perspectiva do que (não) estamos a fazer com o presente. Oferece a possibilidade de catapultar o leitor em busca de conhecimento para uma leitura consistente e consciente. A reduzida mancha textual dá lugar à ilustração, abrindo espaço de ficção para diferentes viagens do leitor enquanto ser único, mas, também, como cidadão do mundo em que vive, capacitado de pensamento e de um dever crítico.

Palavras-chave: cidade, cosmos, viagem, geografia, natureza.

Imagem-chave: páginas 26 e 27

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O jardim secreto
O Jardim Secreto
O Jardim Secreto

Escritora: Mariah Marsden | Ilustradora: Hanna Luechtefeld | Tradutora: Salomé Castro

Editora: Fábula | Ano de publicação: 2022 | N.º de páginas: 192

Resenhista: Sara Reis da Silva

Seguindo uma tendência criativa muito assídua na contemporaneidade, ou seja, a recriação de clássicos, neste caso, em formato de novela gráfica (uma modalidade textual também ela muito actual), O Jardim Secreto, obra originalmente editada em 1911, dá a ler, de forma renovada, a célebre narrativa da escritora inglesa Frances Hodgson Burnett (1849-1924). As temáticas a/intemporais aqui ficcionalizadas, como a amizade, a esperança, o amor, o crescimento, a doença, a morte ou, até, o mistério e os segredos de família, entre outros, constituem um importante factor de atracção e envolvimento do destinatário extratextual. Também a essência multimodal do discurso, estimulando uma atenção que tem de se repartir, com perspicácia, por diferentes códigos, prende a atenção do leitor. Este volume representa, pois, um meio de contacto inicial com um texto clássico, com uma matéria literária recriada, à qual se associa uma leve/equilibrada intencionalidade informativa. Veja-se, no final, a inclusão de um apêndice que apresenta alguns dados biobibliográficos da autora, informações diversas (por exemplo, acerca das charnecas de Yorkshire) e um glossário. Esta é, pois, uma leitura que terá significado e será bem acolhida por distintos leitores, que, com toda a certeza, apreciarão os “piscares de olhos”, a descoberta e a surpresa que a obra guarda.

Palavras-chave: infância, família, mistério, amizade, natureza.

Imagem-chave: página 81

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A inundação
A inundação
A INUNDAÇÃO

Escritora: Mariajo Ilustrajo | Ilustradora: Mariajo Ilustrajo | Tradutora: Susana Cardoso Ferreira

Editora: Fábula | Ano de publicação: 2022 | N.º de páginas: 38

Resenhista: Dora Batalim

Este é um livro-álbum graficamente atraente e apelativo, com edição bastante cuidada, do projecto gráfico à escolha de papel. A propósito de uma inundação de uma cidade habitada por animais, pretende-se falar de cooperação e entreajuda como forma de resolução de problemas. O flagelo apresenta-se lentamente e, “no início, eles não ligam e vão vivendo as suas vidas atarefados e indiferentes, apenas um pequeno animal se apercebe e chama a atenção dos outros”. O desfecho será – previsivelmente – feliz e a solução, por antítese, já estava inscrita neste começo que continha, claras, as referências ao individualismo dos cidadãos.  O argumento é linear para que a carga semântica que a ilustração vai convocando se sustenha. As páginas são o palco para vários modelos de colocação de texto e da sua interação com as personagens. Uma tecelagem que, por vezes, chega a evocar a banda desenhada.  Pela dedicatória, percebemos que o livro resulta de um trabalho académico da autora no âmbito da ilustração e isso talvez explique esta abundância de ideias exploradas mais por via da imagem. O convite a folhear o livro, a “mergulhar” nas suas ilustrações a grafite e aguadas acrílícas em apenas duas cores e apontamentos a amarelo, vale a pena só por si. Acrescenta-se a intenção de um tema actual e urgente.

Palavras-chave: problema, água, animais, cooperação, cidade.

Imagem-chave: páginas 12 e 13

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Era uma vez uma casa
Era uma vez uma casa
ERA UMA VEZ UMA CASA

Escritor: Philippe Nessmann | Ilustradora: Camille Nicolazzi | Tradutora: Sílvia Sacadura

Editora: Livros Horizonte | Ano de publicação: 2022 | N.º de páginas: 28

Resenhista: Rita Pimenta

Como se diz na contracapa, é “uma fábula ecológica sobre a biodiversidade”. Aqui conta-se a história de uma casa enorme e bela, habitada por animais e plantas de todas as espécies. 

Tudo corria bem, até que um habitante pulverizou uma maçã com um produto químico, para que as minhocas fugissem. Mas esse gesto afastou também as abelhas.
Outro habitante resolveu cortar alguns galhos da árvore grande porque precisava de sol para as suas flores no jardim interior. Esse gesto fez com que o orangotango ficasse desalojado e que o pássaro que se alimentava dos frutos da árvore partisse.
Logo se percebe que a casa é o planeta Terra e que as acções impensadas de cada habitante, globalmente, podem ter um alcance de destruição incontrolável e até irreversível. 
Ainda assim, o livro tem um final esperançoso, dando, por último, algumas pistas para a compreensão do que foi narrado e sugerindo, ainda, conselhos de como cada um de nós pode mudar o rumo dos acontecimentos.
A tradução consegue que não nos apercebamos de que o é. As ilustrações são apelativas, dinâmicas, e, até inesperadas na escala e composição. Os animais têm um ar afável, mesmo quando estão tristes. No conjunto, é um livro colorido, mas não berrante.

Obs.: Faz parte do Plano Nacional de Leitura (em Portugal) e conta com um posfácio de Samuel Infante, coordenador nacional do grupo de trabalho da conservação da natureza e da biodiversidade da Quercus. 

Palavras-chave: natureza, sustentabilidade, biodiversidade, poluição, Terra.

Imagem-chave: páginas 20 e 21

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Confia na mudança
CONFIA NA mudança

Escritora: Margarida Fonseca Santos | Ilustração da capa: Corcoise | Paginação e capa: Raquel Silva

Editora: Fábula | Ano de publicação: 2022 | N.º de páginas: 128

Resenhista: Paula Cusati

Durante a pandemia, a família de Carolina muda tudo: casa, cidade, emprego e escola. É uma mudança voluntária e que agrada aos três, pois estarão mais perto da natureza e a fazer o que gostam, longe do caos citadino, embora implique a integração da jovem numa turma já coesa e unida, o que se lhe afigura difícil. Os seus piores receios não se confirmam e Carolina rapidamente tece laços de amizade com três colegas: o Gonçalo, a Sofia e o Francisco, tornando-se inseparáveis. Tudo corre bem. A turma anda entusiasmadíssima com um projeto intergeracional, até que ocorre uma ulterior mudança, bastante mais desafiante. O professor preferido tem de ser operado e é substituído pelo stôr Ezequiel. Amargo e agressivo, este humilha os alunos, destrói a harmonia da turma e ameaça acabar com o projeto. Carolina e os colegas são obrigados a crescer na tentativa de travar o novo professor.

Novela/romance juvenil habilmente contada/o a quatro vozes, numa alternância fluente, com uma escrita fluida e genuína, plasmada também graficamente, por exemplo, através das páginas dos diários de dois dos protagonistas. Este nono volume da coleção “A escolha é minha” mantém a frescura dos diálogos e a abordagem franca, dotada de sensibilidade e profundidade, dos temas, bem como das vulnerabilidades e das dores de crescimento próprias da adolescência.

Obs.: Pertence à coleção “A Escolha é Minha” (9º volume)

Palavras-chave: juvenil, adolescência, escola, mudança, crescer.

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O som das coisas leves quando caem
O som das coisas leves quando caem
O SOM DAS COISAS LEVES QUANDO CAEM

Escritora: Catarina Ferreira de Almeida | Ilustrador: Sérgio Condeço

Editora: Nuvem de Letras | Ano de publicação: 2022 | N.º de páginas: 60

Resenhista: Rita Pimenta

Uma menina e uma cadela saíram de uma ilha. No entanto, continuam lá. A ilha deste livro tem nome: Terceira (Açores). Mas tal não é dito aos leitores. Imediatamente nos ocorre uma frase de José Saramago retirada de O Conto da Ilha Desconhecida: “É preciso sair da ilha para ver a ilha.”

A decisão sobre o que levar é o centro de toda a narrativa, que é bem descrita pela autora, de uma forma poética até: “Tinham de escolher com cuidado, porque dentro do barco não cabia tudo. E, se levassem peso a mais, ainda iam ao fundo. Havia coisas que não pesavam nada, mas ocupavam muito espaço. E outras que nem se viam, mas pesavam toneladas.” A mãe ainda lhe disse que ela não podia levar o seu mau feitio. “Enche a casa toda (…) não cabe num pequeno barco.” 
Talvez melhor mesmo fosse levar “uma boa dose de coragem”.
Sérgio Condeço quis dar à ilustração “um compasso mais lento, reforçar o lado poético e quase triste que o texto revela”. Funcionou.
Ambos conseguem pôr-nos na ilha “que nunca está no mesmo sítio” e lembrar-nos de que há coisas que só podemos levar no pensamento.
“Mudar”, diz a autora do texto, “(lembro-me imediatamente de Ana Ventura e do seu magnífico Mudar [Prémio Nacional de Ilustração 2021]), é ser capaz de se chegar inteiro a um outro lugar. E, durante muito tempo, desse outro lugar, chega-nos apenas um som quase inaudível, o som das coisas leves quando caem, que é, antes de mais, um som imaginado”. É verdade.
Foi o ilustrador, seu amigo, que lhe disse: “Tu e a ‘Jasmim’ ainda não chegaram a Lisboa. Estão as duas no meio do mar, num pequeno bote, a remar.”
Usou tinta acrílica sobre papel e, depois, trabalhou os desenhos digitalmente. No final, do livro, para as caixas de textos, recorreu “aos esboços e até a nódoas de tinta, resultado do processo de dois meses intensos”.
(Excerto/adaptação do texto divulgado no jornal Público “É preciso sair da ilha para ver a ilha”, a 29 de Outubro de 2022.)  

Palavras-chave: viagem, pertença, mar, saudade, desconhecido.

Imagem-chave: páginas 34 e 35

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Destrava Lengas
Destrava Lengas
Destrava-Lengas
TRAVA-LÍNGUAS E LENGALENGAS

Escritora: Luísa Ducla Soares | Ilustrador: Helder Teixeira Peleja

Editora: Livros Horizonte | Ano de publicação: 2022 | N.º de páginas: 38

Resenhista: António Jorge Serafim

O manuseio da linguagem como factor de aproximação à própria língua falada e escrita é o veículo tantas vezes descurado no ensino da mesma. Manter uma relação umbilical da língua falada e escrita com o universo dos falantes e seus leitores torna-se crucial, para que as línguas enquanto sujeitos vivos não percam espaço na formação dos indivíduos. Ora, Luísa Ducla Soares, na sua vasta carreira de escritora, sempre apelou à riqueza da musicalidade da língua, valorizando, desta forma, o caráter lúdico, crítico, absurdo, humorístico, simultaneamente naïf e despretensioso da mesma. Brincar com as palavras com e sem sentido é o início do nascimento da língua dentro de cada ser. Partindo da matriz tradicional do cancioneiro da oralidade, ou seja, das famosas formas poético-líricas da literatura tradicional oral que são as lengalengas e os trava-línguas, Luísa Ducla Soares faz a ponte com os dias de hoje. Recorrendo ao quotidiano contemporâneo, comprova que, afinal, as palavras continuam incisivas e atentas às mutações do tempo e que continuam a articular-se numa subtileza transversal a qualquer época (“Ui, nadei a sete braços a fugir da internet/ deitei o computador para dentro da retrete).

Palavras-chave: trava-línguas, poesia, humor, absurdo, oralidade.

Imagem-chave: páginas 28 e 29

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Os reis do mar
OS REIS DO MAR

Escritor: David Machado | Ilustrador: Alex Gozblau

Editora: Caminho | Ano de publicação: 2022 | N.º de páginas: 196

Resenhista: Bru Junça

A novela juvenil é o segundo título da “Trilogia do Furacão”, iniciada com a obra “Não te Afastes”. Quando a narrativa inicia, há a percepção clara de um desfasamento temporal da acção. E será a partir da voz do narrador, através das suas viagens temporais e imaginárias, que ficaremos a conhecer a história. Entrelaçando-nos desde o primeiro instante. 

Samuel e Rá inauguram uma amizade quando passam por uma situação difícil, juntos. Desde esse dia, tornam-se inseparáveis e companheiros de grandes aventuras. Kaya, uma menina bastante racional, fará o contraponto com a fantasia e a imaginação vivida pelos dois amigos. Surgirão personagens intrigantes que, pelas suas histórias individuais, carregadas de mistério e aventura, permitirão um mergulho numa espiral de profundas leitura(s).  
Uma narrativa que evidencia e espicaça a capacidade criativa que um jovem possui quando necessita de encontrar respostas para as suas interrogações, sobre si e sobre o mundo que o rodeia. A busca e o encontro do lugar que ocupa.  Uma história que convoca a imaginação do leitor, através das aventuras misteriosas dos personagens. Sublinha as dores que o crescimento acarreta, através de uma bela narrativa que coloca em evidência o corromper da inocência pela maturidade.
A par da componente textual, o design gráfico do livro é bastante interessante. Há um índice gráfico que nos guia por lugares, imaginários e reais, o qual nos situa na acção. O final tem um belíssimo remate, onde o narrador oferece ao leitor a chave da “narrativa”. 

Obs.: Obra escrita ao abrigo de uma bolsa de criação literária da DGLAB/MC. 

Palavras-chave: aventura, mistério, fantasia, amizade, crescimento.

Selo Brasil 2022

BABEL ÁFRICA

Escritor: Muriel Bloch| Ilustração : Magali Attiogbê |Tradução: Ana Carolina De Freitas 

Editora: Globinho | Ano de publicação: 2022 | N.º de páginas: 112

Resenhista: Augusto Pessoa

Coletânea de contos populares de várias culturas e países do continente africano. Narrativas antigas cheias de magia e sabedoria recontadas por vozes de hoje e que falam sobre o eterno. As belas e coloridas ilustrações estão impregnadas pela atmosfera de encantamento e ancestralidade do texto verbal. 

Palavras-chaves: conto popular, África, reconto, cultura popular, cultura africana

Os reis do mar
Guernica

Escritor E Ilustração: Bruno Loth |Tradução: Alexandre Boide 

Editora: L&PM | Ano de publicação: 2022 | N.º de páginas: 88

Resenhista: Maria Clara Cavalcanti

Com linguagem em quadrinhos fortes e realistas, o livro consegue  abordar diferentes aspectos da destruição da cidade de Guernica pelos alemães. Fala do sentimento de revolta que leva Picasso a pintar compulsivamente uma das obras mais fortes e famosa dos últimos tempos,   que ele esperava torna-se um grito de alerta para que tal massacre jamais se repetisse.  Fala dos horrores da guerra que se tornam ainda mais reais e assustadores, por humanizar os personagens  que aparecem na obra contando  o que acontece com cada um deles e como suas vidas, em questão de segundos, mudam para sempre.
Uma edição  excepcionalmente bela, com ilustrações em cinza, marrom , preto e vermelho, que enfatizam a dor, o sofrimento dos habitantes, e a destruição da cidade.
Um livro impactante, que merece ser lido, relido e compartilhado. 

Palavras-chave: guerra, morte, Pablo Picasso, Guernica, destruição, dor

A melhor mãe do mundo

Escritora: Nina Rizzi  |Ilustração: Veridiana Scarpelli

Editora: Companhia Das Letrinhas | Ano de publicação: 2022 | N.º de páginas: 32

Resenhista: Maria Clara Cavalcanti

Sabe uma mãe que inventa mil brincadeiras, é carinhosa, ajuda os vizinhos e adora cozinhar? Pois essa é a minha mãe! Pena que ela não está morando conosco por algum tempo, mas sempre que vamos visitá-la, eu e meu pai, fazemos os pratos que ela mais gosta. Na hora de voltarmos para casa, bate a maior tristeza, mas sabemos que daqui a um tempo ela volta.
Com linguagem coloquial e cheia de afeto o livro enfatiza a capacidade do amor em preencher ausências, sem deixar que a distância enfraqueça a força das relações.
As ilustrações ocupam páginas inteiras e dialogam com o texto adicionando novos significados à narrativa.

Palavras-chaves: amor, separação, mãe, saudade, prisão

doçura

Escritora: Emilia Nuñez |Ilustradora Anna Cunha

Editora: TIBI | Ano de publicação: 2022 | N.º de páginas: 36

Resenhista: Luisa Oiticica 

Duas narrativas paralelas e complementares sobre três mulheres negras de uma mesma família, três gerações de cuidado consigo e com a comunidade. O silêncio nas narrativas exclusivamente visuais, em desenhos com suave giz pastel, comunica o trabalho discreto mas fundamental dessas mulheres para a formação dos sujeitos e a conservação da memória do povo de um lugar. O livro, a leitura, a escola, a lida na terra materializam o cuidado e o elo entre gerações. 

Palavras-chave: árvore, avó, feminino, formação do leitor, leitura

N.B.

– Em cada um dos textos anteriores, foi respeitada a opção do autor, relativamente à utilização do Acordo Ortográfico.

– A apresentação dos livros no Site obedece a uma opção estética, não havendo ordenação por nenhum critério de avaliação.