Menção Honrosa António Torrado

Todos contam
Todos contam
TODOS CONTAM

Escritora: Kristin Roskifte | Ilustradora: Kristin Roskifte | Tradutor: João Reis

Editora: Lilliput | Ano de publicação: 2023 | N.º de páginas: 60

Resenhista: Dora Batalim

 

Uma história sobre gente, as pessoas no mundo, e as suas diferenças e semelhanças. Um livro belamente ilustrado sobre nós, sobre como precisamos uns dos outros. Todos. Um estímulo para o raciocínio matemático e a literacia. Livro-jogo, informativo, bem conseguido, cuidado e com humor. O tema é pertinente e actual, alinhado com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU. Claro e fluente, não requer mediação para ser lido. Acolhe bem o leitor curioso, que percorre e volta a abrir o livro, atento aos detalhes. Quer a ilustração quer as legendas e outros textos são ricas de fontes para leitura-inferência, desenvolvimento de capacidade de interpretação e sentido crítico. Verdadeiro, prende o leitor e faz pensar e sorrir.

Obs.: A presente tradução obteve o apoio financeiro do NORLA – Norwegian Literature Abroad.

Palavras-chave: descoberta, população, identidade, observação, humanidade, inferência.

Imagem-chave: páginas 40 e 41

Selo Distinção 2023

Debaixo da mesma lua
Debaixo da mesma lua
DEBAIXO DA MESMA LUA
Escritor: Jimmy Liao| Ilustrador: Jimmy Liao | Tradutoras: Ana M. Noronha e Domenica Ignomeriello

Editora: Kalandraka | Ano de publicação: 2023 | N.º de páginas: 36

Resenhista: Bru Junça

 

Uma maravilhosa leitura que toca o sentido da espera, aos olhos de uma criança. De como pode ser longa a noite, mas também de como a inocência sabe inventar soluções para a tornar menos estática e escura. Jimmy Liao traz-nos uma história de ausência, escrita e ilustrada pela presença de quem sabemos que está longe, e chegará numa noite que se fará dia. Esperança mantida à luz de uma mesma lua, sentimento tão forte que é capaz de enfrentar a mais dura de todas as batalhas, ainda que não se saia ileso. Mas quem sabe esperar, sabe cuidar. Um texto ajustado, profundo, fluente, a par e passo com ilustrações poderosas que nos dão a sentir imagens fortes e desconcertantes. A paleta, colorida, reforça a delicadeza, a bondade, a humanidade e o amor. Um belo livro, para todos, de todas as épocas e lugares.

Palavras-chave: espera, amor, ausência, família, cuidar, esperança.

Imagem-chave: página 6

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Haja paciencia
Haja paciencia
HAJA PACIÊNCIA
Escritor: Gonçalo Viana| Ilustrador: Gonçalo Viana | Direcção de arte: Rui Silva

Editora: Orfeu Negro | Ano de publicação: 2023 | N.º de páginas: 36

Resenhista: Rita Pimenta

 

Uma narrativa que começou com a intenção de explorar “o que sentimos quando somos jovens e nos estamos a tentar integrar no mundo”, fez-nos saber Gonçalo Viana, que a escreveu e ilustrou, contando com a ajuda da filha, Adriana. Criou então uma personagem que se esforça muito por parecer absolutamente normal, quase aborrecida. A antítese do que o leitor espera dela.
Quando se abre o livro, é-se imediatamente interpelado: “Quem está aí? Alguém à espreita? Uma visita-surpresa?” Página seguinte: “Ah, são vocês. Deixem-me adivinhar: querem que eu vos conte uma história.”
Dir-nos-á depois que é um azar morar num livro. E tudo faz para que os leitores se vão embora, já que anda só por ali nas lides domésticas e quer ser o mais desinteressante possível. Onde gostava mesmo de estar era num dicionário, “um sítio sossegado e com muitas páginas”, de preferência escondida entre duas palavras. Deseja reformar-se e passar para o lado de cá do papel. Para que lhe contem histórias.
A técnica usada para nos apresentar a personagem que queria ser leitor começa pelo desenho a lápis sobre papel. “Depois”, revela o ilustrador, o desenho “é digitalizado e todo o processo de pintura é feito, de forma digital, à mão, com uma caneta e mesa digitalizadora, no computador”. Com facilidade e naturalidade, o leitor e o mediador de leitura imergem num universo colorido e absurdo que encanta e diverte. Sem se perder a paciência.
(Excerto/adaptação do texto divulgado no Público “A personagem que queria ser leitor”, a 6 de Maio de 2023.) 

Palavras-chave: metanarrativa, imaginação, livros, leitura, desconstrução.

Imagem-chave: páginas 4 e 5

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Os migrantes
Os migrantes
OS MIGRANTES
Escritor: Marcelo Simonetti | Ilustradora: Maria Girón | Tradutora: Elisabete Ramos

Editora: Kalandraka | Ano de publicação: 2023 | N.º de páginas: 36

Resenhista: Sara Reis da Silva

Infância, emoção, memória, comoção, reflexão, um sorriso também. É de tudo isto – e de muito mais – que este conto é tecido. Protagonizada por dois irmãos, ansiosos com a chegada de dois migrantes – que, para si, poderiam ser “algum tipo de bolo (…) animais de estimação como os ouriços (…) jogos de palavras (…)” –, a acção desenvolve-se em torno das hipóteses, das dúvidas e dos medos (do desconhecido, portanto) também que vão assaltando o pensamento das duas crianças. O humor, pluralmente concebido, emoldura esta narrativa que, com especial delicadeza, sem recorrer a nenhum tipo de lugares-comuns ou “dramatismo” / “sentimentalismo”, ficcionaliza um tema sensível e na ordem do dia. No final, vencem a infância e o seu olhar puro, impõe-se o sorriso e celebra-se a amizade. As ilustrações, compostas a lápis de cor, profusas e amplas, acompanham expressivamente o discurso verbal. Um livro único, comovente e inesquecível.

Obs.: Coleção Livros para sonhar.

Palavras-chave: migração, infância, aceitação, igualdade, amizade, diferença.

Imagem-chave: página 32

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Olho de lince
Olho de lince
OLHO DE LINCE
A incrível história da família Malapata

Escritor: Álvaro Magalhães | Ilustrador: David Pintor

Editora: Porto Editora | Ano de publicação: 2023 | N.º de páginas: 228

Resenhista: Paula Cusati

A família Malapata é afligida pelo azar há vários séculos devido a uma maldição. Só um amuleto a que dão o nome de olho de lince os consegue proteger de tanta má sorte, porém foi roubado e desapareceu há muitos anos. Após sucessivas e rocambolescas desventuras, o avô Raul, o pai Pedro, a mãe Eva, o Hugo, a Beatriz e o gato Black recorrem até ao crime para o reaver. Mas todos os esforços são em vão. No entanto, no final, terão uma ajuda extraordinária.
A história é-nos contada pelo gato preto da família azarada, que presencia todos os acontecimentos e nos presenteia com as suas divertidas considerações, por vezes sarcásticas, outras filosóficas, com rimas à mistura.
No livro que inaugura a coleção Passagem Secreta, Álvaro Magalhães, nome incontornável da literatura para a infância e juventude portuguesa, autor de mais de 120 livros em 41 anos de carreira, consegue mais uma vez construir um universo narrativo original, com personagens cativantes, doseando de forma certeira ritmo, aventura e suspense, numa linguagem fresca e nunca banal. As bem-humoradas ilustrações, no traço característico de David Pintor, constituem o acompanhamento perfeito para este texto. Em suma, um livro que dificilmente conseguiremos parar de ler. 

Palavras-chave: família, azar, gato, aventura, juvenil.

Imagem-chave: página 9

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Bem vindos ao sul
BEM-VINDOS ao SUL

Escritora: Marianne Kaurin | Tradutor: João Reis

Editora: Fábula | Ano de publicação: 2023 | N.º de páginas: 226

Resenhista: Iêda Alcântara

Há de haver sempre um “Sul”. Onde é o “Sul”? O “Sul” é um lugar (será mesmo um lugar?) onde o tempo passa sem que se aperceba, onde brincar e imaginar são a regra.
Da autora norueguesa Marianne Kaurin, com tradução de João Reis, este livro, publicado em 17 línguas, recebeu, em 2021, o Prêmio de Literatura Juvenil na Alemanha. Narrado na primeira pessoa, diverte e prende a atenção do leitor do princípio ao fim, a partir da perspectiva e com as observações sagazes e afiadas de Ina, uma menina de 12 anos, inteligente, perspicaz, que vive a ilusão das redes sociais, enquanto tem de lidar com as adversidades financeiras e problemas familiares, e que, como toda adolescente, quer ser aceite.
A história começa no último dia de escola, momento de partilhar com a professora e toda a classe os planos para o verão. Muita excitação para a maioria que vai passar as férias de sonho num paraíso qualquer, e pernas a tremer e boca a secar para a Ina, que não vai a lado nenhum porque a mãe está desempregada. “Vou para o Sul!”, anuncia. “Sabe-me bem mentir um bocadinho quando a verdade é tão embaraçosa”, admite ela para si mesma.
O que Ina não contava é que seu novo colega de sala, que mora no mesmo bairro social, e que também não terá férias de verão, descobre a sua farsa. Enquanto enfrenta dias de solidão no seu quarto e finge nas redes sociais, Ina descobre o poder da amizade, de não precisar mentir para ser aceite, e a importância de assumir as consequências dos seus próprios atos. E, assim, vive férias de aventura e amadurecimento. Tudo isso acontece no “Sul”, o melhor destino de verão para todo adolescente que se sente à margem. Que o “Sul” seja sempre bem-vindo! 

Obs.: Coleção Estrelas da Literatura Juvenil. A tradução desta obra teve o apoio de NORLA – Norwegian Literature Abroad.

Palavras-chave: amizade, redes sociais, aparência, mentira, adolescência.

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Cá te espero e outras histórias
Cá te espero e outras histórias
Cá Te Espero e outras histórias

Escritor: António Torrado | Ilustradora: Maria João Lopes

Editora: ASA | Ano de publicação: 2023 | N.º de páginas: 60

Resenhista: Bru Junça

Inspirado em cinco histórias tradicionais portuguesas, e conhecedor de várias versões das mesmas, incluindo as do romanceiro tradicional, António Torrado reconta-as e reinventa-as com grande apuro na escrita. Esta edição reúne diferentes tipos de histórias já antes publicadas, em 2005. Um salteador que compra a salvação ao Diabo, um almocreve que salva um cágado e é salvo por uma raposa, uma princesa que se salva por se apaixonar por um segador, um compadre que procura salvar o seu compadre dando-lhe uma lição e um galo que se livra de uma multa cantando no tribunal. Histórias que farão as delícias de leitores jovens e menos jovens, sendo também um bom suporte de leituras em voz alta, pois seguem a boa tradição da narração oral, sem prejuízo de uma elevada qualidade literária.

Palavras-chave: tradição oral portuguesa, aventuras, astúcia, humor.

Imagem-chave: página 53

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Se eu abrir esta porta agora
Se eu abrir esta porta agora
SE EU ABRIR ESTA PORTA AGORA…

Escritor: Alexandre Rampazo | Ilustrador: Alexandre Rampazo | Autora da Adaptação: Mónica Ferreira

Editora: The Poets and Dragons Society | Ano de publicação: 2023 | N.º de páginas: 56

Resenhista: Rita Pimenta

Um livro-jogo que transforma o leitor numa personagem que, no escuro do seu quarto no momento de ir dormir, imagina o que estará do lado de lá da porta do guarda-roupa. Convidado a abri-la sucessivas vezes, irá, num dos lados do livro-acordeão, encontrar monstros que o querem devorar, ficar com o quarto dele, os seus brinquedos, o pai e a mãe; no outro lado do harmónio, vai deparar-se com “um amigo adorável” à sua espera, com quem poderá jogar à apanhada, que se deixará abraçar e será parecido com ele (ou será ele mesmo?).
Em síntese, quem está deste lado da porta pode escolher entre o medo e a alegria.
Na parte assustadora, o protagonista sabe que se vai arrepender de abrir a porta; na parte feliz, sabe que vai adorar fazê-lo. No entanto, nada de mal acontece em ambas. O protagonista e o leitor hão-de certamente dormir uma noite descansada.
A interactividade que o formato do livro faculta dá-lhe um carácter lúdico que ajudará a afastar os medos nocturnos dos mais novos. Também a omnipresente cor azul sobre os fundos cinzentos e brancos atenuam a escuridão da noite sugerida na capa, contracapa e caixa exterior.
O autor explora com criatividade e talento a curiosidade, a expectativa e a surpresa. Um bom livro.

Obs.: O livro recebeu vários prémios importantes no Brasil: da Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil (Melhor Livro para Criança e Melhor Projecto Editorial), da Fundação Biblioteca Nacional (Literatura Infantil, 3.º lugar, Prémio Sylvia Orthof), foi finalista do Prémio Jabuti (Câmara Brasileira do Livro), distinguido pela Cátedra UNESCO PUC-Rio (selo Selecção 2018) e considerado um dos 30 melhores livros infantis do ano pela revista “Crescer”.

Palavras-chave: medo, noite, monstro, expectativa, curiosidade, alegria.

Imagem-chave: páginas 2 e 3

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O cão que nino não tinha
O cão que nino não tinha
o cão que nino não tinha

Escritor: Edward Van De Vendel | Ilustrador: Anton Van Herbruggen | Tradutora: Andreia Salgueiro

Editora: Alfarroba | Ano de publicação: 2023 | N.º de páginas: 36

Resenhista: Rui Marques Veloso

Criando um amigo imaginário, Nino sente-se acompanhado na solidão afetiva que o envolve. Esse amigo é um cão que o protege em todos os momentos, especialmente nos mais difíceis (a permanente ausência do pai). Um dia, recebe de presente um cão real com o qual se identifica, o que não impede que muitos outros animais (incluindo cães) povoem a sua imaginação.
A solidão afectiva – um problema contemporâneo – é superada pela fantasia que a imaginação oferece. Neste conto há uma clara valoração desta faculdade, no sentido de ela constituir um caminho para a criança ser feliz, sem desistir da realidade. A capa dura com uma textura diferenciadora. 

Palavras-chave: solidão, animais, imaginação, afetividade, cumplicidade.

Imagem-chave: páginas 14 e 15

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O Lago dos Suinos
O Lago dos Suinos
O LAGO DOS SUÍNOS

Escritor: James Marshall | Ilustrador: Maurice Sendak | Tradutora: Margarida Vale de Gato

Editora: Kalandraka | Ano de publicação: 2023 | N.º de páginas: 44

Resenhista: Jorge Serafim

O lobo desta história é uma personagem envelhecida, encontrando-se em declínio, e já não é respeitado por ninguém. Inclusivamente, é confundido com um cão velho e decrépito. Divertida comédia que estabelece uma analogia com os contos clássicos, não deixando, contudo, de nos presentear com uma perspectiva transgressora das personagens e dos modelos conhecidos.
Narrativa rocambolesca, cheia de peripécias inusitadas e inesperadas, complementada por ilustrações minuciosas, extremamente ricas em detalhes subliminares que realçam personagens caricatas e situações despropositadas.
O lobo, na sua busca insaciável para matar a fome, entra num teatro para assistir ao Lago dos Suínos. Tanto na assistência como em palco, existem uma quantidade considerável de porcos, leitões e respectivos familiares. Encontrando-se num paraíso inimaginável, surge um aspecto que altera de sobremaneira as suas intenções de predador indomável. Em palco, o desenrolar da peça altera a percepção do seu universo. A arte seduz os seus pensamentos e argumentos para uma outra forma de encarar a vida. E de lobo predador transforma-se em artista de palco, pois o desejo de ser protagonista apaga a sua forma primitiva de caçador.
Um belo livro. Como alguém disse: “Sem arte morre-se de realidade”.

Obs.: Coleção Livros para sonhar

Palavras-chave: arte, lobo, porcos, descoberta, dança.

Imagem-chave: página 19

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Aquele natal inteiro e limpo
Aquele natal inteiro e limpo
AQUELE NATAL INTEIRO E LIMPO

Escritor: José Gardeazabal | Ilustradora: Susana Matos

Editora: Kalandraka | Ano de publicação: 2023 | N.º de páginas: 52

Resenhista: Dora Batalim

Um avô perde a memória e confunde o Natal com o dia 25 de Abril de 1974, dia da Revolução dos Cravos, em Portugal. Esta é uma ideia tão genial quanto sensível, conduzida pela escrita literária de Gardeazabal, descobrindo-nos o que têm em comum estas duas celebrações. Muitas coisas, afinal, assinaladas pela ilustração através da cor vermelha, dos planos rebatidos e do traço a lápis de carvão, assertivo ou esfumado. Funciona como metáfora das lembranças mais ou menos vivas, mais ou menos lineares. A voz que conta é a do neto, que, por sua vez, é o receptor da evocação deste avô esquecido a lembrar o dia “inteiro e limpo” da revolução. A intertextualidade com os versos de Sophia de Mello Breyner acrescenta-se como camada de leitura, contudo sem pesar: a delicadeza deste livro é comovente e comunica. E informa, também, com a poesia que escasseia ao mercado editorial da literatura infanto-juvenil actual.

Palavras-chave: memória, velhice, Natal, 25 de abril, família, avô.

Imagem-chave: páginas 44 e 45

Selo Seleção 2023

Por exemplo uma rosa
Por exemplo uma rosa
Por exemplo, uma rosa

Escritora: Ana Pessoa | Ilustradora: Madalena Matoso

Editora: Planeta Tangerina | Ano de publicação: 2023 | N.º de páginas: 68

Resenhista: Dora Batalim

É um livro que se abre como quem chega ao mundo, palavra a palavra, imagens com cores cheias e primárias, grandes. É um glossário poético das coisas, uma proposta de reflexão sobre como nos apropriamos delas através da nomeação. A beleza dos sentidos e do pensamento, uma matemática que, em comum, nos permite entender: o nome. Tantos nomes e tantas palavras, por haver tantas coisas dentro e fora de nós. O jogo do que é concreto e abstracto, da polissemia e da arbitrariedade. Promove-se o pensamento, as associações e a linguagem. Convida a pensar, como quem brinca com peças de lego: do tamanho das palavras, às possibilidades de as combinar e o que daí resulta. Brinca com conceitos, nomes, imagens, num objecto graficamente atraente e muito cuidado do ponto de vista editorial: a qualidade do papel, do tamanho e da impressão. Podendo parecer dedicado a crianças pequenas, trata-se de uma proposta estimulante para jovens, com várias camadas significantes, evocando citações verbais e plásticas contemporâneas. De forte carga poética, apela à releitura.

Palavras-chave: palavras, metalinguística, nomeação, mundo, jogo.

Imagem-chave: páginas 38 e 39

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As casas das coisas
As casas das coisas
as casas das coisas

Escritor: João Pedro Mésseder | Ilustradora: Rachel Caiano

Editora: Caminho | Ano de publicação: 2023 | N.º de páginas: 44

Resenhista: Maria José Vitorino

A partir de objectos do quotidiano, personagens do imaginário popular, e de outras “coisas” comuns, palavras frequentes na fala de todos os dias – a chuva, o mar, a música, o fogo, a pessoa estúpida… – pequenos e belos textos poéticos, ilustrados com mestria e delicadeza, vão abrindo a casa de cada coisa. Livro de boa leitura, apela à releitura, no todo ou página a página, texto a texto, estimulando a observação e a imaginação do leitor. Existe em formato impresso e em edição digital.

Palavras-chave: casa, quotidiano, poesia.

Imagem-chave: página 6

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A visita
A visita
A visita

Escritora: Núria Figueras | Ilustradora: Anna Font | Tradutores: Àlex Tarradellas e Rita Custódio

Editora: Kalandraka | Ano de publicação: 2023 | N.º de páginas: 32

Resenhista: Rui Marques Veloso

Uma raposinha deixa entrar na toca uma figura estranha – o silêncio. Com ele aprende a ouvir o ritmo do coração ou os pensamentos que povoam a sua imaginação.
Abordagem original de um conceito profundamente abstrato. Ao materializar algo que se define pelo seu contrário – o som, o ruído – a autora leva a criança leitora a uma abstração que não angustia, antes permite uma reflexão sobre os paradoxos da realidade – ouvir o silêncio, como no caso vertente.
Ilustração segura, envolvente, que contribui para a clarificação do que é “escutar o silêncio”. 

Obs.: Obra vencedora do “XVI Prémio Internacional Compostela para álbuns ilustrados”

Palavras-chave: silêncio, sonoridades, introspecção, infância, pensamento.

Imagem-chave: páginas 20 e 21

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O estranhão
O estranhão
O ESTRANHÃO
QUEM TEM UMA AVÓ TEM TUDO

Escritor: Álvaro Magalhães | Ilustrador: Carlos J. Campos

Editora: Porto Editora | Ano de publicação: 2023 | N.º de páginas: 196

Resenhista: Maria José Vitorino

Mais um livro de uma colecção bem-sucedida, dedicada aos jovens. Ted, o Estranhão, um rapaz inteligente, vive mais uma aventura, desta vez com uma companhia vibrante: a sua avó, que vem morar com ele, os pais e a irmã. Numa aliança intergeracional, a que os demais adultos da família não prestam grande atenção, resolvem problemas e defendem a justiça. Cada novo desafio vai prendendo o leitor à obra, escrita com qualidade literária, articulada com as ilustrações a preto e branco, do tipo banda desenhada, tão divertidas como as palavras. Ao longo do livro, encontramos casos muito semelhantes ao quotidiano dos jovens leitores, na escola, em casa, nas férias da família, no lar onde visitam uma amiga da avó, na relação consigo mesmo, terreno tão essencial na adolescência, como a sombra que nos acompanha toda a vida e é um elemento importante na história. Pertinente, actual, saboroso, corre o risco de acentuar a dependência da leitura, o que não é pequeno feito.

Palavras-chave: aventura, humor, avós, quotidiano, família.

Imagem-chave: página 184

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O segredo da felicidade
O segredo da felicidade
O SEGREDO DA FELICIDADE

Escritora: Luísa Ducla Soares | Ilustradora: Cátia Vidinhas

Editora: Livros Horizonte | Ano de publicação: 2023 | N.º de páginas: 28

Resenhista: Sara Reis da Silva

Era uma vez um rei tão infeliz que chorava pelos olhos e pelo nariz. A rainha tudo fez para que o rei encontrasse a felicidade, mas nada resultava… até que um dia um velho sábio, mais sábio de todos os sábios, assegurou que bastava o rei vestir a camisa de um homem feliz. E assim começa a saga da busca da felicidade num reino cheio de queixumes e descontentamento, descrita de forma bem-humorada, irónica e divertida pela consagrada autora infantojuvenil Luísa Ducla Soares. E qual é o final da história? Neste conto ilustrado – com ilustrações inspiradas em aguarela, giz pastel e lápis de cor –, que dialogam eficazmente com o texto e divertem, há vários “quase” finais, daqueles coroados por provérbios de sabedoria popular como “a riqueza não traz felicidade”, quase sempre tomados como verdades absolutas e por lições de moral que são ardilosamente desconstruídas pela autora. Este recurso a diferentes provérbios ou a uma linguagem de contornos proverbiais imprime vivacidade ao relato. No timbre e no tom que singularizam, na verdade, o discurso literário de LDS, é, pois, relatada a infelicidade de um rei que “chora pelos olhos e pelo nariz”. O cómico (de situação e de linguagem) pontua o discurso que apresenta um rol de tristezas e de infelizes, incapazes de fazer o rei feliz. O jogo que o narrador celebra com o destinatário extratextual é fundamental do ponto de vista da sedução daquele que lê e que vai aguardando um final que acaba por chegar e por surpreender. A componente ilustrativa é muito equilibrada, evidencia apontamentos metafóricos e possibilita uma leitura estimulante. Em suma, uma boa narrativa, deliciosamente contada e que envolve pela crítica e pelas reflexões sugeridas em cada um dos sucessivos/supostos finais.

Palavras-chave: felicidade, sabedoria popular, provérbios, humor, mensagem ético-moral.

Imagem-chave: páginas 4 e 5

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Sobe
Sobe
SOBE

Escritora: Nuppita Pittman | Ilustradora: Nuppita Pittman | Tradutora: Joana Barata

Editora: Upa Editora | Ano de publicação: 2023 | N.º de páginas: 40

Resenhista: Rita Pimenta

O uso da repetição, quer no texto quer na imagem, o humor e o facto de ser multilíngue (português, inglês, francês, espanhol) são atributos que conferem dinamismo e originalidade ao livro. Com mediação leitora, os mais novos certamente se entusiasmarão com este passeio a cavalo que se transforma em viagens de autocarro ou de comboio. O formato adequa-se a mãos pequenas e a variação das cores nos diferentes planos atrai o olhar de todos. Um livro eficaz na promoção da leitura.

Palavras-chave: viagem, imaginação, ludicidade, humor, multilíngue.

Imagem-chave: páginas 22 e 23

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Sonhos com dinossauros
Sonhos com dinossauros
SONHOS COM DINOSSAUROS

Escritor: Allan Ahlberg | Ilustrador: André Amstutz | Tradutora: Carla Maia de Almeida

Editora: Kalandraka | Ano de publicação: 2023 | N.º de páginas: 28

Resenhista: Margarida Costa

Trata-se de uma história construída com personagens queridos das crianças a quem se destina: dinossauros e esqueletos, num ambiente familiar. Pai e filho esqueleto (e um cão também esqueleto) partilham a cama fofa, numa cave funda, numa rua escura. O que parecem ingredientes de um relato assustador depressa se transformam numa divertida e agitada brincadeira (em sonhos). De repente, a perseguição levada a cabo por esqueletos de dinossauros converte a corrida num enorme pesadelo, ilustrado quase como banda desenhada, cujo humor transfigura a narrativa pretensamente ameaçadora. Felizmente, o esqueleto de cão está também a sonhar com dinossauros e a sua intervenção contribui para um surpreendente desfecho da história, que certamente divertirá as crianças.

Palavras-chave: família, humor, dinossauros, sonhos, esqueleto.

Imagem-chave: páginas 10 e 11

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instante
instante
instante

Escritora: Virgínia Millefiori | Ilustradora: Helena Zália

Editora: Edição de autor | Ano de publicação: 2023 | N.º de páginas: 28

Resenhista: Rita Pimenta

Avô e neto preparam-se para assistir à migração das andorinhas no final de um Verão. Um quer ser poeta e descrevê-la, o outro quer fotografá-la com o telemóvel.
Uma história que nasce de um relato de uma aluna de uma universidade sénior. A contadora de histórias que a escutou transformou-a, mais de dez anos depois, num livro delicado. Juntou-lhe as suas próprias memórias e narrou um instante que poderia ter sido vivido por alguns de nós. Os que escutam a Natureza.
O que acontece no final da narrativa “serve”, segundo a autora, “como uma espécie de lembrete diário — há instantes que não se repetem nunca”.
As ilustrações são digitais, com um traço simples e minimalista, simulando o uso de grafite e apontamentos com lápis de cor. A ilustradora comunica de modo visualmente poético, numa dança feliz com a narrativa que lhe deu origem e diz ser “talvez o trabalho mais despojado” que fez até àquele momento.
(Excerto/adaptação do texto divulgado no Público “Momentos que nunca se repetem” a 16 de Setembro de 2023.) 

Palavras-chave: natureza, memória, família, migração, andorinhas.

Imagem-chave: páginas 12 e 13

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Pássaros na mão
Pássaros na mão
Pássaros na mão

Escritora: Isabel Peixeiro | Ilustradora: Emília Nor

Editora: UPA | Ano de publicação: 2023 | N.º de páginas: 25

Resenhista: Sara Reis da Silva

Liberdade e Sonho. Beleza e Imaginação, também. São estes os ingredientes principais deste livro delicado para gente pequena (bem como para gente grande ou para todos, na verdade), que se sentirá envolvida pela sua cadência poética e pela sua essência lúdica. A matriz é conhecida: a célebre rima infantil ou lengalenga que “reinventa” a designação de cada um dos dedos da mão (dedo mindinho, seu vizinho, pai de todos, fura-bolos e mata-piolhos), transformados aqui em ramos de uma árvore especial que acolhe cinco pássaros. A este enunciado, representativo de uma forma inicial de descoberta de uma parte do corpo, e que é o “primeiro” texto dado a conhecer (nas palavras e nas ilustrações) ao leitor, quando este folheia cada uma das páginas, alia-se um outro discurso, marcado pela subtileza humorística e “escondido” nas abas desdobráveis. Estas propõem, assim, um jogo de descoberta muito dinâmico, convidando o destinatário a agir sobre o livro e a ir à procura de mais, daquilo que o livro esconde ou de outras leituras. Progressivamente, cada um dos pássaros da mão vai voando dos dedos-ramos. Todos juntos voam em liberdade, como no “olhar de uma criança”. Juntas também, por fim, as mãos servem a imaginação e sugerem simbolicamente a união e a tão desejada paz.

Palavras-chave: liberdade, sonho, imaginação, paz, jogo, lengalenga.

Imagem-chave: páginas 2 e 3

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As sete camas do arganaz
As sete camas do arganaz
As Sete Camas do Arganaz

Escritora: Susanna Isern | Ilustrador: Marco Somà | Tradutora: Sofia Paulino

Editora: Simon’s Books | Ano de publicação: 2023 | N.º de páginas: 36

Resenhista: Rita Pimenta

Houve um Verão diferente na Floresta Verde. O primeiro animal que se apercebeu foi o Coelho. “Ao nascer do sol, levantou-se de um salto e correu a preparar o pequeno-almoço. Na caixa das cenouras encontrou o pequeno Arganaz, que dormia tranquilamente.”
Outras camas diferentes se seguiram: a gaveta das gravatas do Pisco, as hastes do Veado, o sapato do Urso, o relógio de cuco do Rato, a caixinha de música do Esquilo. A justificação repetia-se: “Esta noite não conseguia dormir e resolvi experimentar uma cama diferente.”
Insatisfeitos com a presença recorrente e inesperada do Arganaz nas suas casas, os animais disseram-lhe que tinha de ficar na sua própria cama. E o roedor desapareceu da Floresta Verde. Foi procurar companhia na Floresta Cinzenta, pondo-se em perigo.
Os animais ficaram então a saber pela coruja que, afinal, o que ele tinha era medo de dormir sozinho. Resgataram-no e arranjaram uma solução colectiva.
Um conto breve que remete para a necessidade de protecção durante um certo período do desenvolvimento das crianças. Também valoriza a mudança de atitude dos outros ao se aperceberem dos receios de quem é mais pequeno. A incomodidade de cada um foi relativizada perante o conhecimento da necessidade de quem é mais frágil.
Uma história que, em última análise, pode alertar para o risco de se procurar afectos inapropriados por falta de atenção e carinho de quem é mais próximo e de confiança.
A atmosfera da ilustração envolve de imediato o leitor, pelos tons e pelos pormenores. Tanto o interior como o exterior das casas desenhadas são autênticos poemas visuais. Os rostos dos animais denotam simpatia e ternura.
O ilustrador usa técnica mista. Começa por desenhar a lápis, digitaliza a imagem e só depois começa a colori-la. Para isso, usa fundos em aguarela ou tinta acrílica, que sobrepõe ao lápis. Recorre ainda a papéis coloridos, com o que obtém belos efeitos tridimensionais.
(A informação sobre a técnica do ilustrador foi recolhida e adaptada de um texto de Priscila Brito para o site Thais Slaski, 15 de Outubro de 2019.) 

Obs.: Coleção .gabau

Palavras-chave: medo, amizade, entreajuda, floresta, animais.

Imagem-chave: páginas 10 e 11

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Os Swifts
Os Swifts
Os SWIFTS
Um Dicionário de Malandros

Escritora: Beth Lincoln | Ilustradora: Claire Powell | Tradutora: Raquel Dutra Lopes

Editora: Nuvem de Letras | Ano de publicação: 2023 | N.º de páginas: 420

Resenhista: Dora Batalim

Uma família especial, uma casa fascinante e uma jovem astuta e aventureira prendem-nos a atenção desde as primeiras páginas até ao fim. Livro juvenil, com ilustrações pontuais apropriadas e expressivas a preto e branco, faculta horas de boa leitura. Texto fluente, vocabulário rico, tradução cuidada. De peripécia em peripécia, de membro da família em membro da família, seguimos a história e pensamos sobre as palavras. Cada qual recebe um nome ao nascer que predestina o seu carácter e papel no mundo, pelo poder de um livro, o Dicionário dos Malandros. Todos diferentes. Esta primeira obra da autora, publicada no mesmo ano em vários idiomas, promete transformar-se num sucesso com continuação, ou não fosse o nome da personagem principal Tropelia Swift, ou Encrenca Swift, na tradução brasileira.

Palavras-chave: identidade, família, policial, jogos de palavras, tropelias.

Imagem-chave: página 90

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O herói do autocarro. noturno
O HERÓI do AUTOCARRO Noturno

Escritora: Onjali Q. Raúf | Ilustração da capa: Pippa Curnick | Tradutora: Dulce Afonso

Editora: Booksmile | Ano de publicação: 2023 | N.º de páginas: 304

Resenhista: Rita Pimenta

Um bully precisa de mais atenção do pai e da mãe. Procura-a fora de casa, da pior maneira. Persegue os colegas mais frágeis e maltrata um sem-abrigo. Mas prova a toda a gente que pode mudar.

O grande mérito desta narrativa está, justamente, em explorar este ponto de vista, o do agressor. Actualmente, não falta literatura sobre bullying, mas sempre da perspectiva da vítima, de como se defender e a quem denunciar. Faltava esta.
Sem desculpabilizar o protagonista, Hector, e as suas más acções, mostra-se que a indiferença da família e a incompreensão dos demais, sobretudo adultos, contribuem para esta necessidade de afirmação.
A história é contada na primeira pessoa: “Sim, sou bully, mas não sou mentiroso! No entanto, parece que já ninguém acredita em nada do que digo, mesmo quando estou a dizer a mais pura das verdades.” Há uma solidão imensa que transparece nesta criança.
Numa linguagem simples e acessível, mas não pobre, criam-se diálogos vivos e emotivos entre as diferentes personagens. E são verosímeis.
O livro é também uma reflexão sobre a condição dos sem-abrigo, a sua fragilidade e a insensibilidade de muitos de nós face às suas vidas. Incita-nos a não assobiar para o lado, a valorizar a coragem e a facultar segundas oportunidades. Nesse sentido, é uma narrativa esperançosa para todos.
Tradução competente, sem vestígios da língua de partida. 

Palavras-chave: bullying, família, escola, sem-abrigo, violência.

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O melhor livro para aprender a desenhar uma vaca
O melhor livro para aprender a desenhar uma vaca
O MELHOR LIVRO PARA APRENDER A DESENHAR UMA VACA

Escritora: Helène Rice | Ilustrador: Ronan Badel | Tradutor: Joaquim Teixeira

Editora: The Poets and Dragons Society | Ano de publicação: 2023 | N.º de páginas: 28

Resenhista: Jorge Serafim

Um livro interessante, constituído essencialmente por dois capítulos. A história em torno do processo de desenhar uma vaca é uma narrativa non-sense, assente numa relação texto imagem antagónica. Um narrador, como num livro de receitas, conduz o leitor, passo a passo, para dentro da história, transformando-o num sujeito activo da mesma. Enquanto o texto sugere gradualmente a elaboração do animal vaca, a ilustração, simples e naif, remete para um outro animal, o crocodilo. Construído o perigo, a narrativa aprofunda o efeito absurdo na forma deliciosa de como lidar com o mesmo. A vaca transformada em crocodilo é conduzida a uma panela onde será cozinhada durante 30 minutos. Como é um animal herbívoro não haverá motivo para entrar em pânico. Mas a ilustração revela o oposto do texto. O crocodilo engole a criança que o está a desenhar. É o momento apropriado para manter a calma, basta pegar na borracha, apagar a barriga do crocodilo que nunca foi vaca e sair. Eis a segunda técnica para desenhar uma vaca. Mais uma vez, o diálogo com o formato da folha é fundamental para entender a relação texto e imagem: mancha gráfica do texto e mancha gráfica da ilustração são complementares na leitura de cada página, pois o espaço que cada parte ocupa na mesma constroem uma relação fluente e perspicaz. O narrador conduz o leitor no desenho de uma flor, um dente de leão. O argumento é o de que as vacas adoram dentes de leão. Aparece novamente o crocodilo e a sair da sua boca apenas se vislumbra a pata e a perna de uma vaca. A solução para resolver este problema é usar novamente a borracha. O crocodilo, vítima de anteriores apagamentos, solta a vaca e foge. Moral da história: para desenhar uma vaca, basta apagar o crocodilo que está à sua volta. É uma história inesperada que, do princípio até ao fim, cria no leitor participante um efeito de suspense e inesperado.

Palavras-chave: humor, criatividade, desenho, imaginação.

Imagem-chave: página 8

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O ponto em que estamos
O ponto em que estamos
O PONTO EM QUE ESTAMOS

Escritora: Isabel Minhós Martins | Ilustrador: Bernardo P. Carvalho

Editora: Planeta Tangerina | Ano de publicação: 2023 | N.º de páginas: 28

Resenhista: Margarida Costa

Mais do que um livro triste ou desesperançoso, como descrito na contracapa em jeito de aviso à navegação, estamos perante um livro-catástrofe. Porque é esse o estado do nosso planeta e alertar para a situação de emergência a que chegámos é o seu objetivo. O texto desenvolve-se em frases curtas, como de um slogan publicitário se tratasse, independentes entre si: “fundos do mar de exploração e conquista”, “planícies de asfalto a perder de vista” e “constelações de betão, empreendimentos e pavimentos”. A lista desenvolve-se no mesmo tom, em linha com questões como o consumismo, a poluição, a tecnologia. Cada página é ilustrada por colagens em folhas pintadas com tintas acrílicas, incluindo ilustrações com lápis de cor que complementam o texto, abrindo para novas leituras. O apelo ao ativismo fica explicitado na contracapa como conclusão: “este só é um livro triste, se continuar tudo na mesma. Se ninguém pestanejar, se ninguém se incomodar, se ninguém decidir mudar.” Um livro inquietante, que levanta questões, permite várias camadas de leitura e diferentes níveis de reflexão e aprofundamento. É, por isso, apropriado “para todas as idades (claro)”.

Palavras-chave: mundo, ambiente, consumismo, poluição, ativismo.

Imagem-chave: páginas 23 e 24

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Esconde Esconde
Esconde Esconde
ESCONDE
ESCONDE

Escritora: Isabel Peixeiro | Ilustradora: Catarina Bico

Editora: Upa Editora| Ano de publicação: 2023 | N.º de páginas: 22

Resenhista: Sara Reis da Silva

Livro-acordeão ou desdobrável, propõe, desde o título, uma aproximação marcada pela descoberta e pela ludicidade. A um registo ritmado e rimado, contido e simples, associam-se diferentes ilustrações, muito sugestivas, quase todas representativas de figuras literárias de possível reconhecimento por parte do leitor infantil. Cruzam-se, assim, o Lobo, Cabritinhos, o Capuchinho, o Gato das Botas, a Branca de Neve, entre outras, personagens que jogam um animado “jogo das escondidas”. Todos estes intervenientes, resgatados ao acervo literário tradicional oral, matriz também da literatura especialmente recebida pela criança leitora, convidam a uma leitura intertextual muito estimulante e favorecedora de uma especial cultura literária desde idades precoces. As ilustrações, com conta, peso e medida, possuem potencial sugestivo e sustentam o equilíbrio de cada uma das sucessivas duplas páginas.

Palavras-chave: jogo, escondidas, descoberta, literatura tradicional oral, intertextualidade.

Imagem-chave: páginas 21 e 22

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Quem quer casar com o passarinho?
Quem quer casar com o passarinho?
Quem quer casar com o passarinho?

Escritor: Hendrik Jonas | Ilustrador: Hendrik Jonas | Tradutora: Margarida Nunes

Editora: Nuvem de Letras | Ano de publicação: 2023 | N.º de páginas: 44

Resenhista: Bru Junça

Chega a Primavera, e o tempo de procurar amores. É a história de um passarinho que procura noiva, com uma dificuldade… é aí que conta com a ajuda de muitos amigos animais, com quem troca de voz! Narrativa feliz, ilustrada de forma coerente com o seu teor. Através de um traço afectivo e cores carinhosas, numa harmonia que funciona para os mais novos e para quem com eles leia o livro, esta história resgata, com uma boa dose de humor, a estrutura do conto tradicional. Uma história que nos leva a esse lugar circular e de colo, com a capacidade de nos confortar, sem perder a surpresa. É um dos livros que se volta abrir, uma e outra vez, por cada pedido de: conta-me outra vez!

Palavras-chave: animais, vozes de animais, onomatopeias, entreajuda, demanda.

Imagem-chave: páginas 42 e 43

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Roda Viva
Roda Viva
RODA-VIVA
A MENINA E O CÍRCULO

Escritor: Sandro William Junqueira | Ilustradora: Rachel Caiano

Editora: Caminho | Ano de publicação: 2023 | N.º de páginas: 44

Resenhista: Rui Marques Veloso

O movimento, particularmente a dança, constitui o mundo onde Carolina se revê, sonha e vive cada aventura. A fita, que ondeia e gira, constrói um permanente bailado que gera descobertas inesperadas e afasta pesadelos estranhos.

Numa simbiose perfeita, texto e ilustração materializam o movimento constante do bailado protagonizado por uma criança. A sugestão cinética, que os dois discursos – indissociáveis – nos oferecem, marca a receção do leitor e a sua imaginação.

Palavras-chave: bailado, imaginação, autodescoberta, infância, sonho.

Imagem-chave: páginas 34 e 35

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Perdido
Perdido
PERDIDO

Escritora: Mariajo Ilustrajo | Ilustradora: Mariajo Ilustrajo | Tradutora: Susana Cardoso Ferreira

Editora: Fábula | Ano de publicação: 2023 | N.º de páginas: 44

Resenhista: Bru Junça

Belamente ilustrado, este livro conforta e interroga-nos sobre o olhar que damos, ou não, ao outro no correr dos dias, nas situações mais rotineiras e corriqueiras. Um urso polar longe de casa não consegue encontrar o caminho de volta, até encontrar uma menina que o ajudará, com sucesso. A empatia e a força da amizade fazem parte da história, bem como a incomunicação no meio de muita gente. Em alguns momentos da narrativa, temos de imaginar como se desenvolveram os acontecimentos para compreender a solução que restabelece a felicidade e mantém a memória dos que nos ajudaram. Um livro aberto à imaginação do leitor e que o convida a estruturar a narrativa. Uma ilustração cuidada que, ao colocar alguns planos em diferentes perspectivas, é coerente com as entrelinhas da história. O olhar de cima, de baixo, de lado, de longe ou de perto coloca-nos visualmente em diferentes ângulos sobre um mesmo cenário de acção. No fundo, interroga-nos visualmente sobre o (não) olhar para quem nos rodeia com amabilidade, revelando uma apatia assente num conforto individualista.

Palavras-chave: urso polar, empatia, viagem, comunicação, amizade.

Imagem-chave: páginas 20 e 21

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Além
Além
ALÉM

Escritores: Silvia Fernández e David Fernández| Ilustradora: Mercè López | Tradutora: Andreia Salgueiro | Design da capa: Estudi Miquel Puig

Editora: Alfarroba | Ano de publicação: 2023 | N.º de páginas: 48

Resenhista: Margarida Costa

“Os artistas do Circo Galáxia arriscam as suas vidas diariamente: saltam do trapézio sem rede, engolem fogo e espadas, voam disparados de canhões…Talvez seja por isso que falam tanto sobre a morte.” Assim começa este livro. Dez animais desta trupe circense equilibram-se no arame. Um a um vão caindo enquanto, na dupla página seguinte, se afirma um catálogo de possibilidades relacionadas com diversos credos religiosos ou culturais sobre o que acontece depois da morte. Os diferentes cenários, traduzidos em ilustrações sensíveis, intercalam com uma humorística ilustração iterativa de uma corda bamba, onde um número decrescente de animais se apresenta, por sua vez, num desequilíbrio crescente. Esta alternância imprime ritmo, divertindo, para, logo de seguida, voltar ao tema, dizendo ao leitor que “vamos para o céu” ou “convertemo-nos em espíritos” ou “reencarnamos em diversos animais”. O final aberto deixa espaço à reflexão e à procura da resposta que mais tranquilizar cada um… e, mais uma vez, a ilustração surpreende de forma bem-disposta.

Palavras-chave: morte, pós-morte, crença, circo, animais.

Imagem-chave: páginas 6 e 7

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O sol tem soluços
O sol tem soluços
o SOL tem SOLUÇOS

Escritora: Pina Irace | Ilustradora: Valeria Valenza | Tradutora: Andreia Salgueiro

Editora: Alfarroba | Ano de publicação: 2023 | N.º de páginas: 36

Resenhista: Iêda Alcântara

Já tiveste soluços? Aposto que sim! E sempre há alguém ao lado para dar-nos conselhos para fazê-los parar. Agora, o que acontece quando o sol tem soluços? Só direi que a lua e as estrelas estão cansadas. O galo, as crianças e os adultos também. Como era a primeira vez que isto lhe acontecia, também ele precisou da ajuda dos amigos. Primeiro, veio o mar a dar uma sugestão. O sol bem que tentou, mas não resultou. Em seguida, veio o vento. Mais um falhanço. Até que, com o trovão, tudo ficou resolvido. Com uma mescla de técnicas composta por cores quentes, e frias também, as ilustrações ajudam a revelar as mudanças inusitadas que ocorrem no mundo quando o sol começa a soluçar. As transformações no dia a dia e as diversas tentativas para resolver o problema do sol prendem a atenção do leitor. Ao final, a solução não poderia ser mais corriqueira e previsível, melhor dizendo, assustadora.

Palavras-chave: superstição, mudança, perseverança, instabilidade, amizade.

Imagem-chave: páginas 12 e 13

Selo Brasil 2023

N.B.

– Em cada um dos textos anteriores, foi respeitada a opção do autor, relativamente à utilização do Acordo Ortográfico.

– A apresentação dos livros no Site obedece a uma opção estética, não havendo ordenação por nenhum critério de avaliação.